quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL




A divisão regional oficial

No Brasil, a primeira divisão regional foi apresentada em 1938, decorrente da preocupação do governo com a integração econômica do espaço brasileiro.
A Revolução de 30 havia inaugurado um novo período na história brasileira, marcado pela centralização do poder político em torno do governo federal. Nesse contexto, o conhecimento estatístico do território e da população se transformou em prioridade nacional. Para traçar os rumos do desenvolvimento brasileiro, o governo precisava conhecer o Brasil!
Essa divisão, no entanto, recebeu sérias críticas. Elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela priorizava a localização em detrimento das características físicas, humanas e econômicas das áreas que agrupava. Por essa razão, o IBGE apresentou em 1941 uma nova divisão regional do território brasileiro, com o objetivo de facilitar os estudos estatísticos elaborados pelo governo e de servir de suporte para o ensino de Geografia do Brasil nas escolas.
A divisão regional de 1941 já delimitava cinco grandes regiões: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste. Foi feita com base no conceito de região natural, levando em conta sobretudo a uniformidade dos elementos da natureza. As unidades regionais foram identificadas por meio do "estudo das influências recíprocas entre diferentes fatores naturais, principalmente clima, vegetação e relevo". Mas essa proposta logo foi substituída, pois encaixava todos os Estados inteiros nas grandes regiões, mesmo aqueles que apresentavam paisagens naturais muito distintas dentro de suas fronteiras.
A divisão regional seguinte, de 1945, mantinha as grandes regiões da divisão anterior, mas acrescentava critérios hierárquicos (grandes regiões, regiões, sub-regiões e zonas fisiográficas) e os novos Territórios Federais criados em 1942 (Fernando de Noronha) e 1943 (Amapá, Rio Branco, Guaporé, Ponta Porã e Iguaçu).
Essa divisão regional perdurou até 1969, quando os novos conhecimentos adquiridos sobre o território brasileiro e as transformações nele ocorridas em razão do desenvolvimento industrial e urbano obrigaram o IBGE a estabelecer uma nova divisão regional (ressalte-se que em 15/06/1962 o Presidente João Goulart elevou o Acre à categoria de estado). Dessa vez, o conceito-base era o das regiões homogêneas, definidas pela combinação de aspectos naturais, sociais e econômicos. A Região Leste desapareceu, com a Bahia e o Sergipe migrando para a Região Nordeste. A Região Sul passou a existir sem a presença de São Paulo que, juntamente com Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, passou a constituir a nova Região Sudeste. Entretanto, percebemos que as linhas divisórias das regiões continuam coincidindo com os limites estaduais.

A divisão regional de 1969 ainda é a oficial, com apenas uma modificação: o Estado de Tocantins, criado em 1988 e desmembrado do Estado de Goiás (Região Centro-Oeste), foi incluído na Região Norte. A justificativa para tanto foi o fato de esse Estado ter maior articulação econômica com o Estado do Pará e com o sul do Maranhão.
Em 22/12/1981 pela Lei Complementar nº 41 o antigo território de Rondônia (antes Rio Branco) transformou-se no Estado de Rondônia. E na constituição de 1988 nos Arts. 13 e 14 das Disposições Transitórias foram elevados à categoria de estado os territórios do Amapá e Roraima, além de eliminar a existência do Território de Fernando de Noronha que passa a pertencer ao estado de Pernambuco.
As primeiras propostas de divisão regional do Brasil baseavam-se nas diferenças da paisagem natural. Atualmente, porém, não faz mais sentido elaborar uma divisão regional que não leve em conta as alterações da paisagem produzidas pelo homem.
Por isso, a divisão oficial do Brasil em regiões baseia-se principalmente nas características humanas e econômicas do território nacional. A regionalização elaborada pelo IBGE divide o país em cinco macrorregiões. Os limites de todas elas acompanham as fronteiras político-administrativas dos estados que formam o país.
A região Sudeste é a mais industrializada do país e também a mais urbanizada. As maiores empresas instaladas no país têm as suas sedes no Sudeste. Nessa região, estão as duas principais metrópoles brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. O domínio natural mais importante é o dos mares de morros, antigamente recoberto por verdes matas tropicais.
A região Sul caracteriza-se pela presença de numerosos descendentes de europeus: alemães, italianos ou eslavos. Essa região apresenta também os melhores indicadores sociais do país. A sua agropecuária, moderna e produtiva, transformou-a em fornecedora de alimentos para todo o país. É a única do Brasil com clima subtropical.
A região Nordeste já foi a mais rica, na época colonial. Depois, sua economia declinou e ela se transformou na mais pobre região brasileira. Por isso, tornou-se foco de repulsão de população. Os migrantes nordestinos, ao longo do século XX, espalharam-se por todo o país. Atualmente, o rápido crescimento econômico de algumas áreas do Nordeste está mudando essa situação.
As regiões Centro-Oeste e Norte são os espaços geográficos de povoamento mais recente, que continuam a sofrer um processo de ocupação. Por isso, a paisagem natural encontra-se, em grande parte, preservada.
A região Centro-Oeste, espaço dos cerrados, começou a ser ocupada mais rapidamente após a construção de Brasília, inaugurada em 1960. De lá para cá aumentou bastante a população regional. Aumentaram também a criação de gado e a produção agrícola. Mesmo assim, existem áreas com densidades demográficas muito baixas, como o Pantanal.

A região Norte, espaço da floresta equatorial, é de ocupação ainda mais recente. Mas essa ocupação vem crescendo rapidamente. A derrubada da mata, as queimadas, a poluição dos cursos de água por garimpos e os conflitos pela posse da terra são conseqüências ambientais e sociais da colonização da Amazônia.

Os complexos regionais

Existe outra forma de regionalizar o Brasil, de uma maneira que capta melhor a situação sócio-econômica e as relações entre sociedade e o espaço natural. Trata-se da divisão do país em três grandes complexos regionais: o Centro-Sul, o Nordeste e a Amazônia.
Ao contrário da divisão regional oficial, esta regionalização não foi feita pelo IBGE. Ela surgiu com o geógrafo brasileiro Pedro Pinchas Geiger no final da década de 60, nela o autor levou em consideração o processo histórico de formação do território brasileiro em especial a industrialização, associado aos aspectos naturais.
A divisão em complexos regionais não respeita o limite entre os estados. O Norte de Minas Gerais encontra-se no Nordeste, enquanto o restante do território mineiro encontra-se no Centro-Sul. O leste do Maranhão encontra-se no Nordeste, enquanto o oeste encontra-se na Amazônia. O sul de Tocantins e do Mato Grosso encontra-se no Centro-Sul, mas a maior parte desses estados pertencem ao complexo da Amazônia. Como as estatísticas econômicas e populacionais são produzidas por estados, essa forma de regionalizar não é útil sob certos aspectos, mas é muito útil para a geografia, porque ajuda a contar a história da produção do espaço brasileiro.
O Nordeste foi o pólo econômico mais rico da América portuguesa, com base na monocultura da cana de açúcar, usando trabalho escravo. Tornou-se, no século XX, uma região economicamente problemática, com forte excedente populacional. As migrações de nordestinos para outras regiões atestam essa situação de pobreza.
O Centro-Sul é na atualidade o núcleo econômico do país. Ele concentra a economia moderna, tanto no setor industrial como no setor agrícola, além da melhor estrutura de serviços. Nele se também a capital política do país.
A Amazônia brasileira é o espaço de povoamento mais recente, ainda em estágio inicial de ocupação humana. A área está coberta por uma densa floresta, com clima equatorial, que dificulta o povoamento. Os movimentos migratórios na direção desse complexo regional partem tanto do Centro-Sul como do Nordeste, sendo que hoje a região mais recebe população.
Essa é uma visão superficial da organização do espaço geográfico brasileiro. Ela resume as principais características naturais e humanas de cada uma dessas regiões. Por serem vastas áreas, verdadeiros complexos regionais, o Nordeste, o Centro-Sul e a Amazônia registram profundas desigualdades naturais, sociais e econômicas. As regiões apresentam diferenças entre si e variedade interna de paisagens geográficas.
Em meio à pobreza tradicional, o Nordeste abriga imensos recursos econômicos e humanos, que apontam caminhos para a superação de uma crise que já se prolongou demais. As transformações introduzidas nas zonas irrigadas do Vale do São Francisco e a criação de zonas industriais na área litorânea comprovam essa possibilidade.
A geração de riquezas no Centro-Sul tornou essa região a mais rica do país, estabelecendo um pólo de atração populacional que, no século XX, originou as maiores metrópoles nacionais. O ritmo acelerado desse crescimento criou disparidades sociais gravíssimas, como desemprego, favelamento, e problemas ambientais de difícil solução.
Áreas significativas da Amazônia já foram ocupadas, especialmente aquelas situadas na parte oriental da região ou nas margens dos rios. Hoje esse povoamento se acelerou muito, a tal ponto que os conflitos pela posse da terra se tornaram tristemente comuns. Formaram-se também grandes cidades, caracterizadas pelo crescimento explosivo e por profundos desequilíbrios sociais e econômicos.

O NORDESTE
As sub-regiões nordestinas
Os espaços geográficos são muito diversificados no Nordeste. A organização geográficas das atividades econômicas ajuda a compreender essas diferenças. No complexo regional, encontram-se importantes centros industriais voltados para a produção de petróleo, aço e substâncias químicas, produtos que são comercializados em todo o país. Mas também há pequenas tecelagens domésticas espalhadas por cidades do interior.
A agricultura também exibe situações muito desiguais. Existem usinas canavieiras que empregam bóias frias, imensos latifúndios de criação de gado, modernas explorações irrigadas onde se cultivam frutas tropicais, e minifúndios familiares que produzem produtos para subsistência.
No interior semi-árido, muitas pessoas jamais viram uma grande cidade, usam jumentos como meio de transporte e de carga, vestem-se com roupas feitas de couro dos animais criados nas fazendas. Por outro lado, no litoral úmido e turístico, há metrópoles de milhões de habitantes, que apresentam problemas típicos das grandes cidades do Centro-Sul: favelamento, poluição do ar, congestionamento de trânsito, etc.
A natureza e a história dividiram o Nordeste em sub-regiões, ou seja, áreas menores que possuem uma série de características comuns. São quatro as sub-regiões nordestinas: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio Norte.

a) A zona da mata
É a faixa litorânea de planícies que se estende do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia. As chuvas são intensas e há duas estações bem definidas: o verão seco e o inverno chuvoso.
Na época colonial, instalou-se nesse área o empreendimento açucareiro escravista. As condições ecológicas são ideais para o cultivo da cana. Os solos, férteis e escuros, conhecidos como massapê, cobrem os vales dos rios, que ficaram conhecidos como "rios do açúcar". Vários desses rios são temporários, pois suas nascentes localizam-se no interior do semi-árido.
No início da colonização, a Zona da Mata não era dominada completamente pelas plantações de cana. A população das cidades e das fazendas necessitava de alimentos. Por isso, uma parte das terras ficava reservada para culturas de milho, mandioca, feijão e frutas. Também existiam pastagens para a criação de gado. Essas terras eram os tabuleiros, áreas um pouco mais elevadas situadas entre os vales de dois rios.
Como os solos dos tabuleiros são menos úmidos e mais pobres que o massapê, não eram usados para o plantio da cana. Assim, inicialmente, toda a produção agrícola e até a pecuária localizavam-se na faixa úmida do litoral, onde se instalaram sítios familiares produtores de alimentos e fazendas de gado.
Mas a produção de cana, crescia, à medida que aumentavam as exportações de açúcar para a Europa. As sesmarias se dividiam entre os herdeiros dos primeiros proprietários. Cada um deles criava novos engenhos, que necessitavam de mais cana. Depois, os sítios foram comprados pelos fazendeiros e as culturas de alimentos foram substituídas por novas plantações de cana.
Muita coisa mudou na Zona da Mata desde a época colonial. A escravidão deu lugar ao trabalho assalariado dos bóias frias. Os antigos engenhos foram substituídos por usinas de açúcar e álcool. Mas a cana permaneceu como produto principal da faixa litorânea do Nordeste.
O principal motivo dessa permanência esta na força política dos proprietários de usinas e fazendas. Durante o século XX, a produção de cana, açúcar e álcool do Centro-Sul evoluiu tecnicamente, superando a produção da Zona da Mata. Mas os usineiros sempre conseguiram ajuda do governo federal ou dos governos estaduais, sob a forma de empréstimos, perdão de dívidas ou garantia de preços mínimos. Dessa forma, impediram a diversificação da agricultura do litoral nordestino.
Isso não significa que a cana seja a única cultura da Zona da Mata. No litoral da Bahia, principalmente na área do Recôncavo Baiano, nas proximidades de Salvador, aparecem importantes culturas de tabaco. No sul da Bahia, na área das cidades de Ilhéus e Itabuna, concentram-se as fazendas de cacau.
Além disso, a produção de frutas vem adquirindo importância na Zona da Mata. Há várias frutas nativas do Nordeste - como o caju, o cajá, a mangaba e a pitanga - que servem para fazer deliciosos sucos e doces. Outras frutas, provenientes das áreas tropicais do Oriente - como a graviola, a jaca e a manga - adaptaram-se muito bem aos climas e solos nordestinos.

b) O Agreste
É uma faixa de transição ecológica entre a Zona da Mata e o Sertão nordestino. De largura aproximadamente igual a da Zona da Mata, corre paralelamente a ela, do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia. Embora, como no Sertão, predomine o clima semi-árido, as secas do Agreste raramente são tão duradouras e os índices pluviométricos são maiores que os registrados no Sertão.
Na verdade, grande parte do Agreste corresponde ao planalto da Borborema, voltada para o oceano Atlântico, recebe ventos carregados de umidade que, em contato com o ar mais frio, provocam chuvas de relevo. Na encosta oeste do planalto, as secas são freqüentes e a paisagem desolada do Sertão se torna dominante.
O povoamento do Agreste foi conseqüência da expansão das plantações de cana da Zona da Mata. Expulsos do litoral, os sitiantes e criadores de gado instalaram-se nas terras do interior, antes ocupadas por indígenas. Dessa forma, o Agreste transformou-se em área produtora de alimentos. O Agreste abastecia a Zona da Mata de alimentos e esta por sua vez a Europa exportando açúcar.
Após o fim da escravidão, as plantações canavieiras passaram a utilizar trabalhadores temporários, empregados durante a época da colheita. O Agreste passou a fornecer esses trabalhadores: sitiantes e camponeses pobres que deixam a sua terra nos meses de safra (transumância). Enquanto os homens ganham algum dinheiro na colheita, as mulheres e os filhos permanecem cuidando da lavoura doméstica.
Enquanto a Zona da Mata é uma área policultora, o Agreste é uma área policultora, já que seus sítios cultivam diversos alimentos e criam gado para a produção do leite, queijo e manteiga. Por isso mesmo, uma sub-região depende da outra, estabelecendo uma forte interdependência. Assim, a Zona da Mata precisa dos alimentos e dos trabalhadores do Agreste e este precisa dos mercados consumidores e dos empregos da Zona da Mata.
As diferenças entre as duas sub-regiões não estão apenas naquilo que produzem, mas em como produzem.
Na Zona da Mata, as sesmarias açucareiras da época colonial foram se dividindo e deram origem a centenas de engenhos. Alguns nem faziam açúcar, apenas rapadura e aguardente. Mesmo assim, as fazendas resultantes não se tornaram pequenas propriedades, uma vez que os proprietários precisavam manter uma área suficiente para abastecer os engenhos.
No Agreste, ao contrário, as propriedades foram se subdividindo cada vez mais, já que não cultivavam cana nem tinham engenhos.
Com a sucessão de diversas gerações, as propriedades do Agreste atingiram um tamanho mínimo, suficiente apenas para a produção dos alimentos necessários para a família, ou seja, para a prática da agricultura de subsistência.
A pobreza do Nordeste está associada a esse contraste do mundo rural. De um lado, as usinas e fazendas açucareiras da Zona da Mata concentram a riqueza nas mãos de uma pequena parcela de proprietários. De outro, os minifúndios do Agreste mantém na pobreza as famílias camponesas, que não tem terras e técnicas suficientes para praticar uma agricultura empresarial.
Nos últimos anos vem se dando um processo de concentração de terras no Agreste, em virtude principalmente, da expansão de propriedades de criação de gado para corte. 

c) O Sertão
Mais de metade do complexo regional nordestino corresponde ao Sertão semi-árido. A caatinga, palavra de origem indígena que significa "mato branco", é a cobertura dominante e quase exclusiva na imensa área do Sertão.
A ocupação do Sertão, ainda na época colonial, se deu pela expansão das áreas de criação de gado. A pecuária extensiva representa, até hoje, a principal atividade das grandes propriedades do semi-árido.
No século XVIII, a Revolução Industrial estava em marcha na Inglaterra. As fábricas de tecidos produziam cada vez mais, obtendo lucros fabulosos e exigindo quantidades crescentes de matérias-primas. Por essa época, começou a aumentar o plantio de algodão no Sertão nordestino. Vender algodão para os industriais ingleses tinha se tornado um ótimo negócio.
No século XIX, a Guerra Civil entre nortistas e sulistas nos EUA desorganizou as exportações de algodão estadunidense. No Nordeste, os pecuaristas do Sertão passaram a cultivar o algodão em uma parte das suas terras e o Brasil tomou mercados antes controlados pelos EUA. Os plantadores de algodão do Sertão tornaram-se ricos fazendeiros, que disputavam o poder e a influência com os usineiros da Zona da Mata.
No interior do Sertão definiu-se uma zona na qual as precipitações pluviométricas são mais baixas, denominada "Polígono das secas". Porém não é verdade que as secas se limitem ao Polígono: muitas vezes, elas atingem todo o Sertão e até mesmo o Agreste. Também não é verdade que todos os anos existem secas no Polígono.
No Sertão existiram secas históricas que duraram vários anos, provocaram grandes tragédias sociais até hoje lembradas.
As grandes secas ocorreram após vários anos de chuvas irregulares. A primeira grande seca historicamente documentada ocorreu no período de 1721 a 1727. Um historiador, Tomás Pompeu de Assis Brasil, escreveu que "1722 foi o ano da grande seca, em que não só morreram numerosas tribos indígenas, como o gado e até as feras e aves se encontravam mortas por toda a parte."
O jornalista pernambucano Carlos Garcia explica o mecanismo das secas: " A grande seca de 1932 começou realmente em 1926, quando as chuvas foram irregulares, irregularidade que se acentuou a cada ano seguinte. Em 1932, caíram chuvas finas em janeiro, mas cessaram totalmente em março. A estiagem de 1958 também foi uma grande seca, o que indica a ocorrência de um ciclo de anos secos a cada 26 anos, aproximadamente. Essa periodicidade é que leva os sertanejos a afirmar que cada homem tem de enfrentar uma grande seca em sua vida." (O que é nordeste brasileiro? São Paulo, Brasiliense, 1984, p.64.)
Além das grandes secas, ocorrem também secas localizadas, que atingem pequenos trechos de um ou outro estado nordestino mas causam muitos estragos. Geralmente elas são provocadas pela falta de boas chuvas nas semanas seguintes ao plantio do milho, do feijão e do algodão.
O plantio é feito logo depois das primeiras chuvas do verão. A germinação e o crescimento das plantinhas dependem da continuidade das chuvas, na quantidade exata. Se as chuvas se reduzem, o calor e a insolação matam as lavouras que acabaram de germinar. Quando volta a chover, o camponês faz novas plantações. Mas, se as chuvas cessam novamente começa a tragédia.
A essa altura, o camponês não tem mais dinheiro ou crédito nos bancos. Não consegue, por isso, recomeçar o plantio. O milho e o feijão guardados do ano anterior são consumidos. Sem dinheiro e sem alimentos, resta esperar a ajuda do governo ou então tomar rumo das cidades. Assim, o sertanejo vira retirante.

d) Meio-Norte
O Meio Norte é a região de transição entre o Nordeste e Amazônia. Apesar do clima mais úmido, essa sub-região é marcada pela extrema pobreza da população, que pode ser explicada principalmente pela concentração de rendas e terras. Seus destaques geográficos são:
• a presença da Mata de Cocais, onde o trabalho nas atividades extrativas obtém o óleo da babaçu e a cera de carnaúba;
• como atividades agropecuárias destacam-se a produção de arroz (MA) e a pecuária bovina extensiva.
• nos arredores de São Luís está localizado o Porto de Ponta da Madeira (Porto de Itaqui), que atende ao Projeto Carajás, e a Alumar, um complexo industrial destinado à exportação de alumínio.
Por sua vez, na porção meridional do Maranhão e do Piauí, a grande extensão das chapadas, o domínio das associações vegetais, típicas dos cerrados, e das palmeiras, o aproximam do Centro-Oeste.

Os Quatro Brasis

Milton Santos propôs a divisão do Brasil em quatro regiões, baseada numa atualidade marcada pela difusão diferencial do meio técnico-científico-informacional e nas heranças do passado.

Região Concentrada

Região concentrada é a área onde os acréscimos de ciência e tecnologia ao território se verificam de modo contínuo. Expressão mais intensa do meio técnico-científico-informacional1, essa região abrange os estados do Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo), os estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiás), tendo como pólo as metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Nessa região, a modernização generalizada e a intensa circulação interna e com outras regiões e países correspondem a uma marcada divisão territorial do trabalho. Sede da agricultura mais moderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimento industrial e financeiro, essa área concentra, também, os níveis superiores dos sistemas de saúde, educação, lazer e serviços modernos, como a publicidade, cujas demandas são garantidas pelo consumo dessa grande concentração produtiva e populacional.
As metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritórios das mais poderosas firmas nacionais e das filiais das empresas globais, que têm um papel de controle do mercado nacional e de comando do respectivo território. É em São Paulo que se elabora e concentra a maior parcela das informações sobre a economia, a sociedade e o território. A acumulação de atividades intelectuais assegura a essa metrópole o predomínio das atividades produtivas de ponta, a função de suporte aos segmentos modernos da economia do país e, em decorrência, um caráter de encruzilhada na expansão do meio técnico-científico-informacional. Como o território deve ser usado, hoje, com o conhecimento simultâneo das ações empreendidas em lugares distantes, a sua função de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro.
Região Centro-Oeste

A região Centro-Oeste, constituída pelos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, é uma área de “ocupação periférica” recente. O meio técnico-científico-informacional se estabelece sobre um territorio praticamente “pré-técnico”, onde a vida de relações era rala e precária. Sobre essa herança de rarefação, os novos dados constitutivos do território são os do mundo da informação, da televisão, de uma rede de cidades assentada sobre uma produção agrícola moderna e suas necessidades relacionais.
Os produtos de uma agricultura globalizada – soja,milho, algodão, arroz – são cultivados numa área que abriga as maiores densidades de mecanização agrícola ( um trator para cada 8,8 habitantes agrícolas, uma máquina de colheita para cada 54,7 habitantes agrícolas), o maior consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas e a utilização de tecnologia de ponta, como a agricultura de precisão. Beneficiada pelo valor relativamente baixo da terra, ela consegue também diminuir seus custos de trabalho com altos graus de capitalização em fixos e fluxos.

Nordeste

O Nordeste é uma área de povoamento antigo, onde a constituição do meio mecanizado se deu de forma pontual e pouca densa e onde a respectiva circulação de pessoas, produtos, informação, ordens e dinheiro era precária, tanto em razão do tipo e da natureza das atividades (sobretudo uma agricultura pouco intensiva) como em virtude da estrutura da propriedade. Alicerçada sobretudo no trabalho, essa agricultura evidencia baixos índices de mecanização (um trator para cada 148 habitantes agrícolas e uma máquina de colheita para cada 1.373 habitantes agrícolas)se comparada com a Região Concentrada e com a Região Centro-Oeste.
Herança da antiguidade da ocupação econômica, realizada no período pré-mecânico, o número de núcleos urbanos é grande em virtude da baixa mecanização do território, sua densidade é relativamente importante, mas a taxa regional de urbanização é baixa. Se as aglomerações são numerosas, a urbanização é, de modo geral, raquítica. São causas e consequências da fraqueza da vida de relações, formando um círculo vicioso.

Amazônia

A Amazônia, derinida grosseiramente pelos Estados do Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia, é uma região de rarefações demográficas herdadas e baixas densidades técnicas. No passado, desenvolveu-se um povoamento que levava em à concentração porque a agricultura era limitada em capital, técnica e objetivo.
Essa região também foi a última a ampliar sua mecanização, tanto na produção econômica quanto no próprio território (Roberto Schmidt de Almeida e Miguel A.C. Ribeiro, 1995). A vastidão deste e a necessidade de interligar seus principais lugares levam, primeiro, a um aumento do número de pontos servidos pela avição, que tendem a ser os mesmos pontos nucleares das vias de circulação fluvial ou terrestres. Sua participação no total de cargas transportadas por via aérea no Brasil (19,4%) a situa em segundo lugar depois da Região Concentrada.
As novas hidrovias, como a Madeira-Amazonas, respondem à necessidade de escoar a soja produzida nos fronts de Mato Grosso e Rondônia. Esses pontos, servidos pelos transportes e comunicações, exercem um fraco papel de centralidade sobre parcelas limitadas do espaço, cujo controle depende , na maior parte, da navegação nos rios.
À semelhança de um quisto, Manaus consolida sua vocação como pólo industrial sob o amparo da regulação especial da Zona Franca.

Amazônia

A amazônia merece especial destaque devido ao vários projetos que envolvem a grande fluidez de suas fronteiras e conseqüente problemática para sua fiscalização. Com o intuito de resolver tais condições foram lançados dentre outros o Projeto Calha Norte e o Projeto Sivam.
O Programa Calha Norte (PCN) tem como objetivo principal contribuir com a manutenção da soberania na Amazônia e contribuir com a promoção do seu desenvolvimento ordenado.
Foi criado em 1985 pelo Governo Federal e atualmente é subordinado ao Ministério da Defesa. Visa aumentar a presença do poder público na sua área de atuação e contribuir para a Defesa Nacional.
Na sua etapa de implantação era chamado Projeto Calha Norte e tinha uma atuação limitada, prioritariamente, na área de fronteira. Hoje, o Programa foi expandido e ganhou importância em vista do agravamento de alguns fatores. Entre eles, o esvaziamento demográfico das áreas mais remotas e a intensificação das práticas ilícitas na região. Nesse contexto, cresce a necessidade de vigilância de fronteira e proteção da população. Ao proporcionar assistência às populações, as ações do Programa pretendem fixar o homem na região amazônica.
O PCN busca desenvolver ações de desenvolvimento que sejam socialmente justas e ecologicamente sustentáveis. Para isso, é indispensável respeitar as características regionais e os interesses da Nação.
O SIVAM tem como finalidade o monitoramento da Amazônia Legal (que compreende a Região Norte do Brasil, o estado do Mato Grosso e parte do estado do Maranhão). Para tanto foram criados subsistemas de monitoramento com os seguintes objetivos:

Monitoramento da atividade aérea - cuja responsabilidade é do Comando da Aeronáutica, envolvendo a FIR Amazônica. Inclui no seu acervo de sensores, radares bidimensionais e tridimensionais, bem como a capacidade de integrar informações de aviões de alarme aéreo antecipado AEW, integrados por meio de enlace de dados.
Monitoramento da região amazônica - cuja responsabilidade é da Casa Civil da Presidência da República, através do SIPAM. Suas capacidades vão desde o monitoramento da mata amazônica, unidades de conservação, meteorologia, vigilância do espectro eletromagnético, vigilância terrestre e célula de comando e controle de operações.

8 comentários:

FUFA disse...

Boa Tarde, obrigado pela postagem professor. Nós somos a FUFA e informo-vos que estes textos estaram contido em nosso blog também, Caso algo lhe incomode ou nao esteja em acordo com a sua politica de privacidade, envie-nos um e-mail para que possamos corrigir o problema. Muito Obrigado e Boa Tarde.
Uploader: Gonçalves

Leonel disse...

Boa noite professor, desculpa pela má grafia de meu colega, irei corrigir ao máximo. Nós somos a FUFA e estamos informando que os textos estarão contidos no nosso blog também. O resto está certo.

Anônimo disse...

MUITO BOM! ESTÁ DE PARABÉNS! Me ajudou muito em um trabalho da faculdade!!
Obrigada, Isabela

WENDELL disse...

OLHA! RONDÔNIA CHAMAVA-SE GUAPORÉ

E ERA TERRITÓRIO FEDERAL ANTES DE

DENOMINAR-SE RONDÔNIA....

QUEM ERA DENOMINADO RIO BRANCO ERA

O O ATUAL ESTADO RORAIMA QUE FOI

ELEVADO A CATEGORIA DE ESTADO JUNTO

COM AMAPÁ PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988

OUTRO PONTO... FERNANDO DE NORONHA

DEIXOU DE SER TERRITÓRIO FEDERAL

E FOI INCORPORADO A ÁREA DE PERNAM

BUCO FOI A APARTIR DA CONSTITUIÇÃO

DE 1988 BEM DEPOIS DA ELAVAÇÃO

DO GUAPORÁ A RONDÔNIA COMO ESTADO.

WENDELL

vitória disse...

nossa mtu bom adorei me ajudou mtu!!!!!!!!!!!!!

vitória disse...

nossa mtu bom adorei me ajudou mtu!!!!!!!!!!!!!

Unknown disse...

Oi, muito obrigada pela ajuda. Estou no primeiro anos do ensino médio e darei devidos créditos ao blog. Muito abrigada mesmo.

Anônimo disse...

A REGIONALIZAÇÃO ENTRE FINS DE 30 E INICIO DOS 40S FOI A MENOS ERRONEA DE TODAS AS MAIS PATETICAS SÃO ESSAS QUE FRAGMENTAM O CENTRO-NORTE ENQUANTO CRIAM UM FALSO UNO NA ZONA ALOGENA FUNDINDO ELA COM VIZINHOS DO CENTRO-NORTE MENOS A NORTE QUE NADA TEM A VER COM A ZONA ALOGENA MUITOS ATE ESTAVAM NA ZONA RED DE IDH EM PLENO FINAL DO XX A ZONA ALOGENA SEMPRE TEVE ESSA MANIA DE USAR LACAIOS PRA JOGAR AS ZONAS LATITUDINAIS UMAS CONTRA AS OUTRAS PRINCIPALMENTE O EIXO RS-SP-RJ