domingo, 17 de janeiro de 2010

Para os que me caluniaram dizendo que falo rápido, estou postando este video de treinamento. Nesse ano como teremos que revisar todo o conteúdo do 1º e 2º anos, além de ter aulas de geografia do Rio Grande do Sul, serei obrigado a falar um pouco mais rápido, daí a idéia desse vídeo para que possam treinar o ouvido.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL




A divisão regional oficial

No Brasil, a primeira divisão regional foi apresentada em 1938, decorrente da preocupação do governo com a integração econômica do espaço brasileiro.
A Revolução de 30 havia inaugurado um novo período na história brasileira, marcado pela centralização do poder político em torno do governo federal. Nesse contexto, o conhecimento estatístico do território e da população se transformou em prioridade nacional. Para traçar os rumos do desenvolvimento brasileiro, o governo precisava conhecer o Brasil!
Essa divisão, no entanto, recebeu sérias críticas. Elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela priorizava a localização em detrimento das características físicas, humanas e econômicas das áreas que agrupava. Por essa razão, o IBGE apresentou em 1941 uma nova divisão regional do território brasileiro, com o objetivo de facilitar os estudos estatísticos elaborados pelo governo e de servir de suporte para o ensino de Geografia do Brasil nas escolas.
A divisão regional de 1941 já delimitava cinco grandes regiões: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste. Foi feita com base no conceito de região natural, levando em conta sobretudo a uniformidade dos elementos da natureza. As unidades regionais foram identificadas por meio do "estudo das influências recíprocas entre diferentes fatores naturais, principalmente clima, vegetação e relevo". Mas essa proposta logo foi substituída, pois encaixava todos os Estados inteiros nas grandes regiões, mesmo aqueles que apresentavam paisagens naturais muito distintas dentro de suas fronteiras.
A divisão regional seguinte, de 1945, mantinha as grandes regiões da divisão anterior, mas acrescentava critérios hierárquicos (grandes regiões, regiões, sub-regiões e zonas fisiográficas) e os novos Territórios Federais criados em 1942 (Fernando de Noronha) e 1943 (Amapá, Rio Branco, Guaporé, Ponta Porã e Iguaçu).
Essa divisão regional perdurou até 1969, quando os novos conhecimentos adquiridos sobre o território brasileiro e as transformações nele ocorridas em razão do desenvolvimento industrial e urbano obrigaram o IBGE a estabelecer uma nova divisão regional (ressalte-se que em 15/06/1962 o Presidente João Goulart elevou o Acre à categoria de estado). Dessa vez, o conceito-base era o das regiões homogêneas, definidas pela combinação de aspectos naturais, sociais e econômicos. A Região Leste desapareceu, com a Bahia e o Sergipe migrando para a Região Nordeste. A Região Sul passou a existir sem a presença de São Paulo que, juntamente com Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, passou a constituir a nova Região Sudeste. Entretanto, percebemos que as linhas divisórias das regiões continuam coincidindo com os limites estaduais.

A divisão regional de 1969 ainda é a oficial, com apenas uma modificação: o Estado de Tocantins, criado em 1988 e desmembrado do Estado de Goiás (Região Centro-Oeste), foi incluído na Região Norte. A justificativa para tanto foi o fato de esse Estado ter maior articulação econômica com o Estado do Pará e com o sul do Maranhão.
Em 22/12/1981 pela Lei Complementar nº 41 o antigo território de Rondônia (antes Rio Branco) transformou-se no Estado de Rondônia. E na constituição de 1988 nos Arts. 13 e 14 das Disposições Transitórias foram elevados à categoria de estado os territórios do Amapá e Roraima, além de eliminar a existência do Território de Fernando de Noronha que passa a pertencer ao estado de Pernambuco.
As primeiras propostas de divisão regional do Brasil baseavam-se nas diferenças da paisagem natural. Atualmente, porém, não faz mais sentido elaborar uma divisão regional que não leve em conta as alterações da paisagem produzidas pelo homem.
Por isso, a divisão oficial do Brasil em regiões baseia-se principalmente nas características humanas e econômicas do território nacional. A regionalização elaborada pelo IBGE divide o país em cinco macrorregiões. Os limites de todas elas acompanham as fronteiras político-administrativas dos estados que formam o país.
A região Sudeste é a mais industrializada do país e também a mais urbanizada. As maiores empresas instaladas no país têm as suas sedes no Sudeste. Nessa região, estão as duas principais metrópoles brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. O domínio natural mais importante é o dos mares de morros, antigamente recoberto por verdes matas tropicais.
A região Sul caracteriza-se pela presença de numerosos descendentes de europeus: alemães, italianos ou eslavos. Essa região apresenta também os melhores indicadores sociais do país. A sua agropecuária, moderna e produtiva, transformou-a em fornecedora de alimentos para todo o país. É a única do Brasil com clima subtropical.
A região Nordeste já foi a mais rica, na época colonial. Depois, sua economia declinou e ela se transformou na mais pobre região brasileira. Por isso, tornou-se foco de repulsão de população. Os migrantes nordestinos, ao longo do século XX, espalharam-se por todo o país. Atualmente, o rápido crescimento econômico de algumas áreas do Nordeste está mudando essa situação.
As regiões Centro-Oeste e Norte são os espaços geográficos de povoamento mais recente, que continuam a sofrer um processo de ocupação. Por isso, a paisagem natural encontra-se, em grande parte, preservada.
A região Centro-Oeste, espaço dos cerrados, começou a ser ocupada mais rapidamente após a construção de Brasília, inaugurada em 1960. De lá para cá aumentou bastante a população regional. Aumentaram também a criação de gado e a produção agrícola. Mesmo assim, existem áreas com densidades demográficas muito baixas, como o Pantanal.

A região Norte, espaço da floresta equatorial, é de ocupação ainda mais recente. Mas essa ocupação vem crescendo rapidamente. A derrubada da mata, as queimadas, a poluição dos cursos de água por garimpos e os conflitos pela posse da terra são conseqüências ambientais e sociais da colonização da Amazônia.

Os complexos regionais

Existe outra forma de regionalizar o Brasil, de uma maneira que capta melhor a situação sócio-econômica e as relações entre sociedade e o espaço natural. Trata-se da divisão do país em três grandes complexos regionais: o Centro-Sul, o Nordeste e a Amazônia.
Ao contrário da divisão regional oficial, esta regionalização não foi feita pelo IBGE. Ela surgiu com o geógrafo brasileiro Pedro Pinchas Geiger no final da década de 60, nela o autor levou em consideração o processo histórico de formação do território brasileiro em especial a industrialização, associado aos aspectos naturais.
A divisão em complexos regionais não respeita o limite entre os estados. O Norte de Minas Gerais encontra-se no Nordeste, enquanto o restante do território mineiro encontra-se no Centro-Sul. O leste do Maranhão encontra-se no Nordeste, enquanto o oeste encontra-se na Amazônia. O sul de Tocantins e do Mato Grosso encontra-se no Centro-Sul, mas a maior parte desses estados pertencem ao complexo da Amazônia. Como as estatísticas econômicas e populacionais são produzidas por estados, essa forma de regionalizar não é útil sob certos aspectos, mas é muito útil para a geografia, porque ajuda a contar a história da produção do espaço brasileiro.
O Nordeste foi o pólo econômico mais rico da América portuguesa, com base na monocultura da cana de açúcar, usando trabalho escravo. Tornou-se, no século XX, uma região economicamente problemática, com forte excedente populacional. As migrações de nordestinos para outras regiões atestam essa situação de pobreza.
O Centro-Sul é na atualidade o núcleo econômico do país. Ele concentra a economia moderna, tanto no setor industrial como no setor agrícola, além da melhor estrutura de serviços. Nele se também a capital política do país.
A Amazônia brasileira é o espaço de povoamento mais recente, ainda em estágio inicial de ocupação humana. A área está coberta por uma densa floresta, com clima equatorial, que dificulta o povoamento. Os movimentos migratórios na direção desse complexo regional partem tanto do Centro-Sul como do Nordeste, sendo que hoje a região mais recebe população.
Essa é uma visão superficial da organização do espaço geográfico brasileiro. Ela resume as principais características naturais e humanas de cada uma dessas regiões. Por serem vastas áreas, verdadeiros complexos regionais, o Nordeste, o Centro-Sul e a Amazônia registram profundas desigualdades naturais, sociais e econômicas. As regiões apresentam diferenças entre si e variedade interna de paisagens geográficas.
Em meio à pobreza tradicional, o Nordeste abriga imensos recursos econômicos e humanos, que apontam caminhos para a superação de uma crise que já se prolongou demais. As transformações introduzidas nas zonas irrigadas do Vale do São Francisco e a criação de zonas industriais na área litorânea comprovam essa possibilidade.
A geração de riquezas no Centro-Sul tornou essa região a mais rica do país, estabelecendo um pólo de atração populacional que, no século XX, originou as maiores metrópoles nacionais. O ritmo acelerado desse crescimento criou disparidades sociais gravíssimas, como desemprego, favelamento, e problemas ambientais de difícil solução.
Áreas significativas da Amazônia já foram ocupadas, especialmente aquelas situadas na parte oriental da região ou nas margens dos rios. Hoje esse povoamento se acelerou muito, a tal ponto que os conflitos pela posse da terra se tornaram tristemente comuns. Formaram-se também grandes cidades, caracterizadas pelo crescimento explosivo e por profundos desequilíbrios sociais e econômicos.

O NORDESTE
As sub-regiões nordestinas
Os espaços geográficos são muito diversificados no Nordeste. A organização geográficas das atividades econômicas ajuda a compreender essas diferenças. No complexo regional, encontram-se importantes centros industriais voltados para a produção de petróleo, aço e substâncias químicas, produtos que são comercializados em todo o país. Mas também há pequenas tecelagens domésticas espalhadas por cidades do interior.
A agricultura também exibe situações muito desiguais. Existem usinas canavieiras que empregam bóias frias, imensos latifúndios de criação de gado, modernas explorações irrigadas onde se cultivam frutas tropicais, e minifúndios familiares que produzem produtos para subsistência.
No interior semi-árido, muitas pessoas jamais viram uma grande cidade, usam jumentos como meio de transporte e de carga, vestem-se com roupas feitas de couro dos animais criados nas fazendas. Por outro lado, no litoral úmido e turístico, há metrópoles de milhões de habitantes, que apresentam problemas típicos das grandes cidades do Centro-Sul: favelamento, poluição do ar, congestionamento de trânsito, etc.
A natureza e a história dividiram o Nordeste em sub-regiões, ou seja, áreas menores que possuem uma série de características comuns. São quatro as sub-regiões nordestinas: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio Norte.

a) A zona da mata
É a faixa litorânea de planícies que se estende do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia. As chuvas são intensas e há duas estações bem definidas: o verão seco e o inverno chuvoso.
Na época colonial, instalou-se nesse área o empreendimento açucareiro escravista. As condições ecológicas são ideais para o cultivo da cana. Os solos, férteis e escuros, conhecidos como massapê, cobrem os vales dos rios, que ficaram conhecidos como "rios do açúcar". Vários desses rios são temporários, pois suas nascentes localizam-se no interior do semi-árido.
No início da colonização, a Zona da Mata não era dominada completamente pelas plantações de cana. A população das cidades e das fazendas necessitava de alimentos. Por isso, uma parte das terras ficava reservada para culturas de milho, mandioca, feijão e frutas. Também existiam pastagens para a criação de gado. Essas terras eram os tabuleiros, áreas um pouco mais elevadas situadas entre os vales de dois rios.
Como os solos dos tabuleiros são menos úmidos e mais pobres que o massapê, não eram usados para o plantio da cana. Assim, inicialmente, toda a produção agrícola e até a pecuária localizavam-se na faixa úmida do litoral, onde se instalaram sítios familiares produtores de alimentos e fazendas de gado.
Mas a produção de cana, crescia, à medida que aumentavam as exportações de açúcar para a Europa. As sesmarias se dividiam entre os herdeiros dos primeiros proprietários. Cada um deles criava novos engenhos, que necessitavam de mais cana. Depois, os sítios foram comprados pelos fazendeiros e as culturas de alimentos foram substituídas por novas plantações de cana.
Muita coisa mudou na Zona da Mata desde a época colonial. A escravidão deu lugar ao trabalho assalariado dos bóias frias. Os antigos engenhos foram substituídos por usinas de açúcar e álcool. Mas a cana permaneceu como produto principal da faixa litorânea do Nordeste.
O principal motivo dessa permanência esta na força política dos proprietários de usinas e fazendas. Durante o século XX, a produção de cana, açúcar e álcool do Centro-Sul evoluiu tecnicamente, superando a produção da Zona da Mata. Mas os usineiros sempre conseguiram ajuda do governo federal ou dos governos estaduais, sob a forma de empréstimos, perdão de dívidas ou garantia de preços mínimos. Dessa forma, impediram a diversificação da agricultura do litoral nordestino.
Isso não significa que a cana seja a única cultura da Zona da Mata. No litoral da Bahia, principalmente na área do Recôncavo Baiano, nas proximidades de Salvador, aparecem importantes culturas de tabaco. No sul da Bahia, na área das cidades de Ilhéus e Itabuna, concentram-se as fazendas de cacau.
Além disso, a produção de frutas vem adquirindo importância na Zona da Mata. Há várias frutas nativas do Nordeste - como o caju, o cajá, a mangaba e a pitanga - que servem para fazer deliciosos sucos e doces. Outras frutas, provenientes das áreas tropicais do Oriente - como a graviola, a jaca e a manga - adaptaram-se muito bem aos climas e solos nordestinos.

b) O Agreste
É uma faixa de transição ecológica entre a Zona da Mata e o Sertão nordestino. De largura aproximadamente igual a da Zona da Mata, corre paralelamente a ela, do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia. Embora, como no Sertão, predomine o clima semi-árido, as secas do Agreste raramente são tão duradouras e os índices pluviométricos são maiores que os registrados no Sertão.
Na verdade, grande parte do Agreste corresponde ao planalto da Borborema, voltada para o oceano Atlântico, recebe ventos carregados de umidade que, em contato com o ar mais frio, provocam chuvas de relevo. Na encosta oeste do planalto, as secas são freqüentes e a paisagem desolada do Sertão se torna dominante.
O povoamento do Agreste foi conseqüência da expansão das plantações de cana da Zona da Mata. Expulsos do litoral, os sitiantes e criadores de gado instalaram-se nas terras do interior, antes ocupadas por indígenas. Dessa forma, o Agreste transformou-se em área produtora de alimentos. O Agreste abastecia a Zona da Mata de alimentos e esta por sua vez a Europa exportando açúcar.
Após o fim da escravidão, as plantações canavieiras passaram a utilizar trabalhadores temporários, empregados durante a época da colheita. O Agreste passou a fornecer esses trabalhadores: sitiantes e camponeses pobres que deixam a sua terra nos meses de safra (transumância). Enquanto os homens ganham algum dinheiro na colheita, as mulheres e os filhos permanecem cuidando da lavoura doméstica.
Enquanto a Zona da Mata é uma área policultora, o Agreste é uma área policultora, já que seus sítios cultivam diversos alimentos e criam gado para a produção do leite, queijo e manteiga. Por isso mesmo, uma sub-região depende da outra, estabelecendo uma forte interdependência. Assim, a Zona da Mata precisa dos alimentos e dos trabalhadores do Agreste e este precisa dos mercados consumidores e dos empregos da Zona da Mata.
As diferenças entre as duas sub-regiões não estão apenas naquilo que produzem, mas em como produzem.
Na Zona da Mata, as sesmarias açucareiras da época colonial foram se dividindo e deram origem a centenas de engenhos. Alguns nem faziam açúcar, apenas rapadura e aguardente. Mesmo assim, as fazendas resultantes não se tornaram pequenas propriedades, uma vez que os proprietários precisavam manter uma área suficiente para abastecer os engenhos.
No Agreste, ao contrário, as propriedades foram se subdividindo cada vez mais, já que não cultivavam cana nem tinham engenhos.
Com a sucessão de diversas gerações, as propriedades do Agreste atingiram um tamanho mínimo, suficiente apenas para a produção dos alimentos necessários para a família, ou seja, para a prática da agricultura de subsistência.
A pobreza do Nordeste está associada a esse contraste do mundo rural. De um lado, as usinas e fazendas açucareiras da Zona da Mata concentram a riqueza nas mãos de uma pequena parcela de proprietários. De outro, os minifúndios do Agreste mantém na pobreza as famílias camponesas, que não tem terras e técnicas suficientes para praticar uma agricultura empresarial.
Nos últimos anos vem se dando um processo de concentração de terras no Agreste, em virtude principalmente, da expansão de propriedades de criação de gado para corte. 

c) O Sertão
Mais de metade do complexo regional nordestino corresponde ao Sertão semi-árido. A caatinga, palavra de origem indígena que significa "mato branco", é a cobertura dominante e quase exclusiva na imensa área do Sertão.
A ocupação do Sertão, ainda na época colonial, se deu pela expansão das áreas de criação de gado. A pecuária extensiva representa, até hoje, a principal atividade das grandes propriedades do semi-árido.
No século XVIII, a Revolução Industrial estava em marcha na Inglaterra. As fábricas de tecidos produziam cada vez mais, obtendo lucros fabulosos e exigindo quantidades crescentes de matérias-primas. Por essa época, começou a aumentar o plantio de algodão no Sertão nordestino. Vender algodão para os industriais ingleses tinha se tornado um ótimo negócio.
No século XIX, a Guerra Civil entre nortistas e sulistas nos EUA desorganizou as exportações de algodão estadunidense. No Nordeste, os pecuaristas do Sertão passaram a cultivar o algodão em uma parte das suas terras e o Brasil tomou mercados antes controlados pelos EUA. Os plantadores de algodão do Sertão tornaram-se ricos fazendeiros, que disputavam o poder e a influência com os usineiros da Zona da Mata.
No interior do Sertão definiu-se uma zona na qual as precipitações pluviométricas são mais baixas, denominada "Polígono das secas". Porém não é verdade que as secas se limitem ao Polígono: muitas vezes, elas atingem todo o Sertão e até mesmo o Agreste. Também não é verdade que todos os anos existem secas no Polígono.
No Sertão existiram secas históricas que duraram vários anos, provocaram grandes tragédias sociais até hoje lembradas.
As grandes secas ocorreram após vários anos de chuvas irregulares. A primeira grande seca historicamente documentada ocorreu no período de 1721 a 1727. Um historiador, Tomás Pompeu de Assis Brasil, escreveu que "1722 foi o ano da grande seca, em que não só morreram numerosas tribos indígenas, como o gado e até as feras e aves se encontravam mortas por toda a parte."
O jornalista pernambucano Carlos Garcia explica o mecanismo das secas: " A grande seca de 1932 começou realmente em 1926, quando as chuvas foram irregulares, irregularidade que se acentuou a cada ano seguinte. Em 1932, caíram chuvas finas em janeiro, mas cessaram totalmente em março. A estiagem de 1958 também foi uma grande seca, o que indica a ocorrência de um ciclo de anos secos a cada 26 anos, aproximadamente. Essa periodicidade é que leva os sertanejos a afirmar que cada homem tem de enfrentar uma grande seca em sua vida." (O que é nordeste brasileiro? São Paulo, Brasiliense, 1984, p.64.)
Além das grandes secas, ocorrem também secas localizadas, que atingem pequenos trechos de um ou outro estado nordestino mas causam muitos estragos. Geralmente elas são provocadas pela falta de boas chuvas nas semanas seguintes ao plantio do milho, do feijão e do algodão.
O plantio é feito logo depois das primeiras chuvas do verão. A germinação e o crescimento das plantinhas dependem da continuidade das chuvas, na quantidade exata. Se as chuvas se reduzem, o calor e a insolação matam as lavouras que acabaram de germinar. Quando volta a chover, o camponês faz novas plantações. Mas, se as chuvas cessam novamente começa a tragédia.
A essa altura, o camponês não tem mais dinheiro ou crédito nos bancos. Não consegue, por isso, recomeçar o plantio. O milho e o feijão guardados do ano anterior são consumidos. Sem dinheiro e sem alimentos, resta esperar a ajuda do governo ou então tomar rumo das cidades. Assim, o sertanejo vira retirante.

d) Meio-Norte
O Meio Norte é a região de transição entre o Nordeste e Amazônia. Apesar do clima mais úmido, essa sub-região é marcada pela extrema pobreza da população, que pode ser explicada principalmente pela concentração de rendas e terras. Seus destaques geográficos são:
• a presença da Mata de Cocais, onde o trabalho nas atividades extrativas obtém o óleo da babaçu e a cera de carnaúba;
• como atividades agropecuárias destacam-se a produção de arroz (MA) e a pecuária bovina extensiva.
• nos arredores de São Luís está localizado o Porto de Ponta da Madeira (Porto de Itaqui), que atende ao Projeto Carajás, e a Alumar, um complexo industrial destinado à exportação de alumínio.
Por sua vez, na porção meridional do Maranhão e do Piauí, a grande extensão das chapadas, o domínio das associações vegetais, típicas dos cerrados, e das palmeiras, o aproximam do Centro-Oeste.

Os Quatro Brasis

Milton Santos propôs a divisão do Brasil em quatro regiões, baseada numa atualidade marcada pela difusão diferencial do meio técnico-científico-informacional e nas heranças do passado.

Região Concentrada

Região concentrada é a área onde os acréscimos de ciência e tecnologia ao território se verificam de modo contínuo. Expressão mais intensa do meio técnico-científico-informacional1, essa região abrange os estados do Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo), os estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiás), tendo como pólo as metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Nessa região, a modernização generalizada e a intensa circulação interna e com outras regiões e países correspondem a uma marcada divisão territorial do trabalho. Sede da agricultura mais moderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimento industrial e financeiro, essa área concentra, também, os níveis superiores dos sistemas de saúde, educação, lazer e serviços modernos, como a publicidade, cujas demandas são garantidas pelo consumo dessa grande concentração produtiva e populacional.
As metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritórios das mais poderosas firmas nacionais e das filiais das empresas globais, que têm um papel de controle do mercado nacional e de comando do respectivo território. É em São Paulo que se elabora e concentra a maior parcela das informações sobre a economia, a sociedade e o território. A acumulação de atividades intelectuais assegura a essa metrópole o predomínio das atividades produtivas de ponta, a função de suporte aos segmentos modernos da economia do país e, em decorrência, um caráter de encruzilhada na expansão do meio técnico-científico-informacional. Como o território deve ser usado, hoje, com o conhecimento simultâneo das ações empreendidas em lugares distantes, a sua função de centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro.
Região Centro-Oeste

A região Centro-Oeste, constituída pelos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, é uma área de “ocupação periférica” recente. O meio técnico-científico-informacional se estabelece sobre um territorio praticamente “pré-técnico”, onde a vida de relações era rala e precária. Sobre essa herança de rarefação, os novos dados constitutivos do território são os do mundo da informação, da televisão, de uma rede de cidades assentada sobre uma produção agrícola moderna e suas necessidades relacionais.
Os produtos de uma agricultura globalizada – soja,milho, algodão, arroz – são cultivados numa área que abriga as maiores densidades de mecanização agrícola ( um trator para cada 8,8 habitantes agrícolas, uma máquina de colheita para cada 54,7 habitantes agrícolas), o maior consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas e a utilização de tecnologia de ponta, como a agricultura de precisão. Beneficiada pelo valor relativamente baixo da terra, ela consegue também diminuir seus custos de trabalho com altos graus de capitalização em fixos e fluxos.

Nordeste

O Nordeste é uma área de povoamento antigo, onde a constituição do meio mecanizado se deu de forma pontual e pouca densa e onde a respectiva circulação de pessoas, produtos, informação, ordens e dinheiro era precária, tanto em razão do tipo e da natureza das atividades (sobretudo uma agricultura pouco intensiva) como em virtude da estrutura da propriedade. Alicerçada sobretudo no trabalho, essa agricultura evidencia baixos índices de mecanização (um trator para cada 148 habitantes agrícolas e uma máquina de colheita para cada 1.373 habitantes agrícolas)se comparada com a Região Concentrada e com a Região Centro-Oeste.
Herança da antiguidade da ocupação econômica, realizada no período pré-mecânico, o número de núcleos urbanos é grande em virtude da baixa mecanização do território, sua densidade é relativamente importante, mas a taxa regional de urbanização é baixa. Se as aglomerações são numerosas, a urbanização é, de modo geral, raquítica. São causas e consequências da fraqueza da vida de relações, formando um círculo vicioso.

Amazônia

A Amazônia, derinida grosseiramente pelos Estados do Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia, é uma região de rarefações demográficas herdadas e baixas densidades técnicas. No passado, desenvolveu-se um povoamento que levava em à concentração porque a agricultura era limitada em capital, técnica e objetivo.
Essa região também foi a última a ampliar sua mecanização, tanto na produção econômica quanto no próprio território (Roberto Schmidt de Almeida e Miguel A.C. Ribeiro, 1995). A vastidão deste e a necessidade de interligar seus principais lugares levam, primeiro, a um aumento do número de pontos servidos pela avição, que tendem a ser os mesmos pontos nucleares das vias de circulação fluvial ou terrestres. Sua participação no total de cargas transportadas por via aérea no Brasil (19,4%) a situa em segundo lugar depois da Região Concentrada.
As novas hidrovias, como a Madeira-Amazonas, respondem à necessidade de escoar a soja produzida nos fronts de Mato Grosso e Rondônia. Esses pontos, servidos pelos transportes e comunicações, exercem um fraco papel de centralidade sobre parcelas limitadas do espaço, cujo controle depende , na maior parte, da navegação nos rios.
À semelhança de um quisto, Manaus consolida sua vocação como pólo industrial sob o amparo da regulação especial da Zona Franca.

Amazônia

A amazônia merece especial destaque devido ao vários projetos que envolvem a grande fluidez de suas fronteiras e conseqüente problemática para sua fiscalização. Com o intuito de resolver tais condições foram lançados dentre outros o Projeto Calha Norte e o Projeto Sivam.
O Programa Calha Norte (PCN) tem como objetivo principal contribuir com a manutenção da soberania na Amazônia e contribuir com a promoção do seu desenvolvimento ordenado.
Foi criado em 1985 pelo Governo Federal e atualmente é subordinado ao Ministério da Defesa. Visa aumentar a presença do poder público na sua área de atuação e contribuir para a Defesa Nacional.
Na sua etapa de implantação era chamado Projeto Calha Norte e tinha uma atuação limitada, prioritariamente, na área de fronteira. Hoje, o Programa foi expandido e ganhou importância em vista do agravamento de alguns fatores. Entre eles, o esvaziamento demográfico das áreas mais remotas e a intensificação das práticas ilícitas na região. Nesse contexto, cresce a necessidade de vigilância de fronteira e proteção da população. Ao proporcionar assistência às populações, as ações do Programa pretendem fixar o homem na região amazônica.
O PCN busca desenvolver ações de desenvolvimento que sejam socialmente justas e ecologicamente sustentáveis. Para isso, é indispensável respeitar as características regionais e os interesses da Nação.
O SIVAM tem como finalidade o monitoramento da Amazônia Legal (que compreende a Região Norte do Brasil, o estado do Mato Grosso e parte do estado do Maranhão). Para tanto foram criados subsistemas de monitoramento com os seguintes objetivos:

Monitoramento da atividade aérea - cuja responsabilidade é do Comando da Aeronáutica, envolvendo a FIR Amazônica. Inclui no seu acervo de sensores, radares bidimensionais e tridimensionais, bem como a capacidade de integrar informações de aviões de alarme aéreo antecipado AEW, integrados por meio de enlace de dados.
Monitoramento da região amazônica - cuja responsabilidade é da Casa Civil da Presidência da República, através do SIPAM. Suas capacidades vão desde o monitoramento da mata amazônica, unidades de conservação, meteorologia, vigilância do espectro eletromagnético, vigilância terrestre e célula de comando e controle de operações.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

POPULAÇÃO BRASILEIRA













Com 184 milhões (população estimada às 15:04 no dia 18/06/2008) , o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, atrás apenas de China, Índia, EUA e Indonésia. A taxa média de ocupação é de 21,8 habitantes por km², porém a distribuição não é regular. A grande maioria se concentra na faixa litorânea até 100 km da costa. Certas regiões do interior apresentam taxas com menos de 1 habitante por km². Projetos políticos tentam mudar este quadro criando novos centros populacionais, como a Zona Franca de Manaus e o Tocantins, fomentando a construção de rodovias, como a Transamazônica, unindo áreas afastadas. A etnia do povo brasileiro descende de índios, africanos, europeus, árabes e asiáticos.

Embora o Brasil seja a quinta nação mais populosa do mundo, sua densidade demográfica é baixa, se comparada com a de outros países. A população concentra-se ao longo da costa atlântica dos estados das regiões Nordeste e Sudeste. A atividade industrial está concentrada na região Sudeste, com 50% da produção industrial localizada no estado de São Paulo. A migração do Nordeste para o Sudeste, assim como da zona rural para a zona urbana, tem sido significativa desde 1970. Mais recentemente, o fluxo da migração se voltou para as regiões Centro-Oeste e Norte, menos habitadas.

Etnias

Encontram-se, basicamente, três etnias na formação do povo brasileiro. Aos habitantes originais (indígenas) foram somadas sucessivas ondas de europeus (principalmente portugueses) e africanos (a maioria da costa oeste, ao sul do Saara).

No século XVI, a área que hoje é o Brasil foi habitada por centenas de tribos indígenas, que, embora fossem da mesma etnia, falavam línguas diferentes e tinham culturas distintas. Grupos de língua Tupi-Guarani, que viviam na região costeira e arredores, em muitas situações estabeleceram casamentos com os colonizadores portugueses. Por outro lado, muitas tribos que falavam outras línguas (Gê, Aruaq e Karib) e viviam no interior demoraram a estabelecer contato com os "estrangeiros". Atualmente, chega a 200 o número de tribos de índios brasileiros, que falam 180 línguas diferentes.

Os índios vivem em vastas áreas (total de 850.000 km2) equivalentes a 10% do território brasileiro, terras reservadas à população indígena pelo Governo Federal. Nessas áreas os índios estão aptos a preservar seu estilo de vida.

Em meados do século XVI, africanos pertencentes ao grupo étnico Bantu e sudaneses da Nação Yoruba (o que é hoje a Nigéria e o Benin) foram trazidos para o Brasil para trabalhar como escravos na indústria da cana-de-açúcar e, mais tarde, nas minas de ouro e diamantes e nas plantações de café. O processo de integração iniciado entre europeus e índios rapidamente englobou os escravos negros.

A mistura étnica ocorreu desde o descobrimento do Brasil, no final do século XV, recebendo um número cada vez maior de imigrantes do mundo inteiro. Portugal permaneceu a mais importante fonte de imigração para o Brasil, seguido da Itália e do Líbano. Na primeira metade do século XX, como conseqüência da Segunda Guerra Mundial e pressão econômica, considerável contingente de imigrantes veio do Japão e, pela boa receptividade social, estabeleceu-se uma tendência à imigração japonesa. Por volta de 1969, 274.312 japoneses haviam vindo para o Brasil. Hoje, vive no Brasil o maior contingente de descendentes de japoneses que se encontra fora do Japão.

Imigração

A vinda de imigrantes para o Brasil, ressalvada a presença dos portugueses - colonizadores do País - delineia-se a partir da abertura dos portos às "nações amigas" (1808) e da independência do País (1822). À margem dos deslocamentos populacionais voluntários, cabe lembrar que milhões de negros foram obrigados a cruzar o oceano Atlântico, ao longo dos séculos XVI a XIX, com destino ao Brasil, constituindo a mão-de-obra escrava. Os monarcas brasileiros trataram de atrair imigrantes para a região sul do País, oferecendo-lhes lotes de terra para que se estabelecessem como pequenos proprietários agrícolas.

Vieram primeiro os alemães e, a partir de 1870, os italianos, duas etnias que se tornaram majoritárias nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entretanto, a grande leva imigratória começou em meados de 1880, com características bem diversas das acima apontadas.

A principal região de atração passou a ser o estado de São Paulo e os objetivos básicos da política imigratória mudaram. Já não se cogitava de atrair famílias que se convertessem em pequenos proprietários, mas de obter braços para a lavoura do café, em plena expansão em São Paulo. A opção pela imigração em massa foi a forma de se substituir o trabalhador negro escravo, diante da crise do sistema escravista e da abolição da escravatura (1888). Nas Américas, pela ordem, os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil foram os principais países receptores de imigrantes.

No caso brasileiro, os dados indicam que em torno de 4,5 milhões de pessoas imigraram para o país entre 1882 e 1934. A partir dos anos 30, a imigração em massa cedeu terreno. A política nacionalista de alguns países europeus - caso típico da Itália após a ascensão de Mussolini - tendeu a colocar obstáculos à imigração para a América Latina. No Brasil, a demanda de força de trabalho, necessária para o desenvolvimento industrial, passou a ser suprida, cada vez mais, pelas migrações internas. Habitantes do Nordeste do País e do estado de Minas Gerais abandonaram suas regiões em busca do "el-Dorado paulista". Na década de 30, somente os japoneses, ligados à pequena propriedade agrícola, continuaram a vir em grande número para São Paulo.Em anos mais recentes, a imigração para o Brasil, qualitativamente, diversificou-se bastante. Novas etnias se juntaram às mais antigas, como é o caso da imigração de países vizinhos - Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia etc. - tanto por razões profissionais como políticas. Coreanos passaram a compor a paisagem da cidade de São Paulo, multiplicando restaurantes e confecções.

Os Alemães

Os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Brasil logo após a Independência, dentro de um programa de colonização idealizado pelo governo brasileiro, que visava o desenvolvimento da agricultura e a ocupação do território no Sul do País. A primeira colônia alemã foi fundada em 1824, com o nome de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, numa área de terras públicas do Vale do Rio dos Sinos.

Durante quase todo o período de duração do fluxo imigratório (entre 1824 e 1937), a imigração alemã se caracterizou pela participação contínua no processo de colonização em frentes pioneiras - compartilhada por outros imigrantes europeus, sobretudo italianos - que resultou na formação de um campesinato de pequenos proprietários.

Entre as colônias mais conhecidas estão aquelas que passaram por um processo de desenvolvimento econômico com a industrialização - caso de Blumenau, Joinville e Brusque, em Santa Catarina, e São Leopoldo, Novo Hamburgo e Ijuí, no Rio Grande do Sul - para citar alguns exemplos. Houve ainda estabelecimento de alemães em algumas colônias do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo - todas pouco expressivas. Por outro lado, uma parte dos imigrantes - sobretudo após a Primeira Guerra Mundial - se estabeleceu em cidades maiores como Porto Alegre, Curitiba e São Paulo.

Os Italianos

Os italianos começaram a imigrar em número significativo para o Brasil a partir da década de 70 do século XIX. Foram impulsionados pelas transformações sócio-econômicas em curso no Norte da península italiana, que afetaram sobretudo a propriedade da terra.

As grandes áreas de atração de imigrantes italianos para o Brasil foram os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Considerando o período 1884-1972, verificamos que quase 70% dos italianos ingressaram no País pelo estado de São Paulo.

As condições de estabelecimento dos italianos foram bastante diversas. A imigração sulina praticamente não foi subsidiada e os recém-chegados instalaram-se como proprietários rurais ou urbanos. Em São Paulo, foram a princípio atraídos para trabalhar nas fazendas de café, através do esquema da imigração subsidiada. Nas cidades paulistas, trabalharam em uma série de atividades, em especial como operários da construção e da indústria têxtil.

Os imigrantes italianos influenciaram fortemente os hábitos alimentares nas regiões em que se fixaram e deram uma importante contribuição à industrialização gaúcha e paulista. A maioria dos primeiros grandes industriais de São Paulo - os Matarazzo, os Crespi - constituíram o grupo dos chamados "condes italianos", cuja proeminência só foi ultrapassada com o correr dos anos.

Os Japoneses

A primeira leva de japoneses chegou ao Brasil em 1908, através de um esquema de imigração subsidiada. Houve oposição inicial à imigração dessa etnia, que acabou sendo aceita como uma alternativa as dificuldades impostas pelo governo italiano à imigração subsidiada de italianos para o Brasil. Os japoneses concentraram-se no estado de São Paulo, correspondendo a 92,5% o número de japoneses que entrou nesse estado, entre 1909 e 1972. O fluxo imigratório de japoneses ganhou relevo no período posterior a 1930, quando a imigração de italianos e de espanhóis se reduziu consideravelmente. Entre 1932 e 1935, cerca de 30% dos imigrantes que ingressaram no Brasil eram de nacionalidade japonesa.

Os japoneses foram destinados inicialmente as fazendas de café, mas gradativamente tornaram-se pequenos e médios proprietários rurais. Dentre todos os grupos imigrantes foram os que se concentraram por período mais longo nas atividades rurais, em que se destacaram pela diversificação da produção dos hortifrutigranjeiros. Em anos recentes, houve forte migração de descendentes de japoneses para os centros urbanos, onde passaram a ocupar posições importantes nas várias atividades componentes da área de serviços.

Os japoneses foram responsáveis pela implantação do cultivo da juta e da pimenta-do-reino na Amazônia.

Atualmente 225.000 brasileiros descendentes ou cônjuges de japoneses residem e trabalham no Japão caracterizando uma inversão do fluxo migratório que ocorreu até a metade do século XX. Dados do Ministério da Justiça do Japão apontam que dos 1,55 milhão de imigrantes que moram no Japão (1,23 % do total da população), os brasileiros, sem considerar os que não estão documentados, representam 14,4%. Este panorama confere aos brasileiros a terceira maior comunidade estrangeira no país, antecedidos apenas pelos coreanos e chineses.

A partir da década de 80 a expansão econômica japonesa aliada à crise econômica brasileira impulsionou este novo fluxo migratório. Afinal, ao mesmo tempo em que se anunciava diariamente a alta inflação e a crescente dívida externa, o Japão era freqüentemente mencionado na mídia como potência tecnológica. Além da série de fatores que contribuem para este fluxo migratório, como por exemplo, as relações estabelecidas entre os dois países anteriormente, soma-se a demanda por mão-de-obra que realizasse as funções rejeitadas pelos japoneses. Tais tarefas foram estigmatizadas, de acordo com a pesquisa de Lili Kawamura, socióloga e autora do livro Para onde vão os brasileiros?, sob o signo dos 3 Ks – kitsui (penoso), kikken (perigoso) e kitanai (sujo), que posteriormente foram acrescidos de mais dois adjetivos dados pelos próprios brasileiros kibishii (sacrificado) e kirai (desagradável). Estes trabalhadores são chamados dekassegui ("leva de filhos e netos de japoneses em busca de trabalho em outras paragens para ganhar mais dinheiro") que, segundo Lili Kawamura, é um termo pejorativo quando utilizado no Brasil, pois insere a idéia de oportunismo e o estigma de classe baixa associados no período inicial do movimento. No Japão, o termo não é pejorativo, mas compreende uma denominação para a realidade de migrantes de regiões pobres para ricas, com todas as caracterizações daí decorrentes. Inicialmente eram recrutados para trabalhar em fábricas mas, com o aumento do que passou a ser denominado movimento ou fenômeno dekassegui, passaram a trabalhar nos mais diversos serviços.

Os Espanhóis

Os espanhóis começaram a imigrar para o Brasil em razão dos problemas no país de origem e das possibilidades de trabalho que, bem ou mal, lhes eram oferecido. Muitos agricultores, proprietários de minifúndios, partiram da Galícia; outros vieram da Andaluzia, onde eram, principalmente, trabalhadores agrícolas.

Nos primeiros tempos, ou seja, a partir da década de 80 do século XIX, os espanhóis foram encaminhados, sobretudo, para trabalhar nas fazendas de café no estado de São Paulo. Com relação aos demais grupos europeus, caracterizaram-se por serem os que, em maior grau, chegaram como grupo familiar e os que trouxeram crianças em maior proporção.

Eles constituíram a terceira maior etnia que imigrou para o Brasil, após os portugueses e italianos, entre 1880 e 1972, representando cerca de 14% do total de imigrantes nesse período.

Dentre os grandes grupos de imigrantes, os espanhóis foram os que mais se concentraram no estado de São Paulo. O censo de 1920, por exemplo, revelou que 78% dos espanhóis residiam neste estado. Embora a grande maioria dos espanhóis tenha se fixado, a princípio, no campo, onde ganharam posições como pequenos e médios proprietários, a presença urbana da etnia não é desprezível. Em seus primeiros tempos, os espanhóis vincularam-se ao comércio de metais usados - o chamado "ferro velho" - e ao setor de restaurantes, diversificando, posteriormente, suas atividades.

Migrações Internas

Cerca de um terço dos brasileiros não vive onde nasceu. As migrações internas respondem por boa parte desse terço, e se classificam basicamente em duas categorias: deslocamento do campo para a cidade (êxodo rural) - causadas pela falta de oportunidades de trabalho e serviços no campo e pela concentração fundiária - e migrações regionais, das quais os exemplos mais importantes foram:

· o ciclo da mineração, em Minas Gerais, nos meados do século XVIII, que provocou um deslocamento da população litorânea para o interior do país;

· o fluxo de escravos do Nordeste para as plantações de café de São Paulo e do Rio de Janeiro, em fins do século XIX;

· o ciclo da borracha, na Amazônia, em fins do século XIX para o início do século XX, que atraiu muitas pessoas, especialmente do Nordeste;

· a construção de Brasília, que deslocou mão-de-obra principalmente do Norte e Nordeste;

· o desenvolvimento industrial, dos anos 50 em diante , na região Sudeste (principalmente São Paulo e Rio de Janeiro), que deslocou principalmente nordestinos.

Recentemente as migrações regionais mais importantes ainda são a de nordestinos para as regiões Sudeste e Sul, em busca de trabalho nos setores industrial, comercial e de serviços; ocorre, também, no Centro-Oeste e Norte, um fluxo de famílias ligadas ao meio rural, vindas principalmente da região Sul, graças à expansão da fronteira agrícola.

Os principais tipos de migração interna são:

a) Êxodo Rural: migração de caráter definitivo em que o homem se desloca do campo em direção aos centros urbanos. Iniciou-se em grande escala com o advento da industrialização brasileira.

b) Transumância: migração de caráter temporário em que o homem se desloca levado por condições sazonais, sendo mais comum na área rural.

c) Migração Pendular: migração de caráter diário, em que a população se desloca entre um centro principal e as cidades satélites ou “dormitórios”.

ESTRUTURA DA POPULAÇÃO

1- Estrutura ocupacional

Com base na estrutura ocupacional a população de um país pode ser dividida em dois grupos:

a) População economicamente ativa (PEA): correspondem às pessoas que trabalham em um dos setores formais da economia ou que estão a procura de emprego. Subdividi-se em desempregados e população ocupada.

b) População economicamente inativa (PEI) ou população não economicamente ativa (PNEA): corresponde a parcela da população que não está empregada como crianças, velhos, deficientes, estudantes, etc., ou que não exercem atividades remuneradas como donas de casa. Essa camada da sociedade demanda grandes investimentos sociais, e é bancada pela população ativa.

1.1- Desemprego e subemprego:

Hoje o maior problema enfrentado pela maioria dos países do mundo é o desemprego, ele é uma realidade não apenas em países subdesenvolvidos, mas também, em países altamente desenvolvidos como a Alemanha.

O desemprego se divide em dois tipos fundamentais:

a) Desemprego conjuntural: que é aquele que está ligado a conjunturas de crise econômica, nas quais a oferta de empregos e os postos ocupados diminuem.

b) Desemprego estrutural ou tecnológico: que está ligado à estrutura produtiva, e aos avanços tecnológicos introduzidos na produção, em substituição da mão de obra humana, como o que é gerado pela robótica.

Além do desemprego, é comum hoje a existência dos chamados subempregos, onde o trabalhador além de trabalhar na maioria das vezes em condições precárias, ganha baixíssimos salários e não tem nenhuma garantia legal. Esse tipo de atividade é muito comum hoje em países subdesenvolvidos como o Brasil, onde o número de subempregados é enorme, e grande parte da população depende do trabalho dessas pessoas. Esse fenômeno é conhecido como hipertrofia do setor terciário.

1.2-Trabalho infantil

Além do fato de a juventude ser a maior afetada com o desemprego, existe nos países subdesenvolvidos o problema do trabalho infantil, o qual é gerado por sérios problemas econômicos e sociais enfrentados por esses países, onde crianças precisam trabalhar para ajudar na renda familiar. Muitas vezes a condição de trabalho que se encontram essas crianças é de completa insalubridade. Além disso, outros problemas como o abandono dos estudos é gerado em virtude desse tipo de atividade.

No Brasil o número de criança que trabalham é muito grande, isso se deve em especial, pelo fato de grande parte dos chefes de famílias brasileiros, não terem condições de arcar sozinhos com os gastos familiares, o que faz com que milhares de crianças tenham que trabalhar. É muito comum também no Brasil, os adultos se aproveitarem das crianças, fazendo com que elas trabalhem enquanto o próprio adulto não busca o que fazer.

O trabalho infantil compromete o rendimento escolar, quando não impede as crianças de estudarem. Além disso, e apesar da lei, um número significativo de crianças brasileiras trabalha em atividades penosas ou insalubres, o que afeta também suas condições de saúde. É o caso, por exemplo, dos pequenos carvoeiros do Mato Grosso do Sul, dos cortadores de cana em Pernambuco, dos trabalhadores-mirins no beneficiamento de sisal, na Bahia, ou dos empilhadores de tijolos nas olarias clandestinas de São Paulo.

1.3-Setores da economia

A economia dos países se divide em 3 setores chamados de formais, pois, contribuem com a arrecadação de impostos, assinam carteira, dentre outras formalidades legais.

São eles os seguintes:

a) Setor primário: que envolve em geral atividades ligadas ao meio rural, como, a agricultura, pecuária, extrativismo vegetal e a pesca.

b) Setor secundário: que envolve as atividades industriais.

c) Setor terciário: que envolve as atividades do comércio, prestação de serviços, funcionalismo público, etc.

É importante ressaltar que o espaço onde se desenvolvem essas atividades não é rígido, ou seja, podemos ter atividades primárias no espaço urbano, como o que ocorre com os cinturões verdes, ou atividades secundárias no espaço rural, como o que ocorre na agroindústria.

Hoje em dia em virtude do grande avanço tecnológico, alguns autores passam a trabalhar com a idéia de um setor quaternário, onde se desenvolveriam as atividades de pesquisa de ponta, envolvendo universidades, centros de pesquisas, etc., esse setor surge em função da Revolução Tecnocientífica em andamento.

No Brasil, e em outros países subdesenvolvidos, se dá a chamada hipertrofia (inchaço) do setor terciário, que por sua vez tem gerado a proliferação de atividades informais.

Esse processo decorre do intenso êxodo rural que gera um inchaço no setor terciário urbano, na medida em que a indústria atual utiliza cada vez menos mão de obra. Fazendo com que muitas pessoas especialmente nos grandes centros do país, tenham que depender de atividades informais, os chamados subempregos, além do que contribui com o aumento da criminalidade, na medida em que muitos trabalhadores passam a desenvolver atividades à margem da lei para poder sustentar suas famílias.

Distribuição da população ativa por setores de atividades (em %)

Setor
Primário

Setor
Secundário

Setor Terciário

Comércio

Serviços

Adiministração pública

Atividades Sociais

Transportes e comunicações

Outros

Total

24,2

19,3

13,4

19,2

4,6

9,6

3,9

5,8

56,5

Fonte: Censo IBGE - 2000.

1.4- A participação da mulher no mercado de trabalho.

Apesar de crescente, a participação das mulheres no mercado de trabalho não tem significado ainda melhorias das condições de vida, pelo contrário, pesquisas mostram que com o aumento de lares liderados por mulheres, houve uma redução na renda familiar. Isso se deve ao fato de as mulheres em média ganharem salários mais baixos que os homens para desempenharem as mesmas funções. As causas que estão por trás deste fato são por exemplo:

- a herança patriarcal de nossa sociedade;

- o machismo ainda muito forte e presente no nosso dia-a-dia;

- a desvalorização do trabalho doméstico;

- o preconceito que coloca a mulher como sexo frágil.

Além dos menores salários, do preconceito, do machismo, etc., as mulheres ainda tem que enfrentar as jornadas duplas ( trabalho e casa ) ou triplas ( casa, trabalho e estudos ). Também é a mulher a maior vítima da violência doméstica, em geral praticada por maridos violentos.

Mesmo com todas essas dificuldades, as mulheres vem avançando em seus direitos e conseguindo espaços cada vez maiores na nossa sociedade, como por exemplo o fato de a maioria dos universitários brasileiros serem mulheres.

PIRÂMIDE ETÁRIA

É o gráfico populacional que leva em consideração a estrutura sexual da população ( homens e mulheres ) e as faixas etárias - 0 à 19 anos jovens, 20 à 59 adultos, e 60 ou + anos idosos.

A estrutura da pirâmide é a seguinte:

- Base: corresponde aos jovens.

- Meio: corresponde aos adultos.

Topo ou ápice: corresponde aos idosos.

A análise das pirâmides nos permite verificar a situação de desenvolvimento ou subdesenvolvimento dos países.

Exemplo: uma pirâmide de base larga indica grande crescimento vegetativo; o topo estreito indica baixa expectativa de vida, o que nos faz concluir que essa seja de um país subdesenvolvido. Por outro lado, uma base mais estreita, indica pequeno crescimento vegetativo; um topo mais largo indica grande expectativa de vida, o que nos leva a concluir que seja um país desenvolvido.

A análise das pirâmides etárias é de fundamental importância para os estudos de população.

No Brasil, temos verificado uma mudança na pirâmide etária, que tem alargado o topo, e estreitado a base. Essas mudanças decorrem em especial da urbanização do país, que mudou significativamente o modo de vida de grande parte dos brasileiros, principalmente com relação aos filhos, e também garantiu avanços fundamentais a nível médico-sanitário.

Distribuição de Renda

O instituto, ligado ao Ministério do Planejamento, apontou que, em 2003, 1% dos brasileiros mais ricos detinham uma renda equivalente aos ganhos dos 50%.

No mesmo período, cerca de um terço da população - ou 53,9 milhões de pessoas - foi considerada pobre, em critério que inclui todos os que viviam com renda familiar per capita de até meio salário mínimo (R$ 120 na ocasião).

Segundo dados da pesquisa, em 1999 havia 14,5% da população brasileira vivendo em famílias com renda inferior à linha de indigência e 34,1%, com renda inferior à linha da pobreza. Isso corresponde a 22 e 53 milhões de pessoas respectivamente. Comparado ao ano anterior, houve um pequeno aumento: em 1998 havia 21,7 milhões de indigentes e 50,3 milhões de pobres.

No entanto, se analisarmos a renda per capita do Brasil com a de outros países, não podemos considerá-lo um país pobre: a comparação internacional quanto a renda per capita coloca o Brasil entre o terço mais rico dos países do mundo. Apenas 36% dos países do mundo possuem renda per capita superior a do Brasil mas o seu grau de pobreza é significativamente superior à média dos países com renda per capita similar à brasileira. A população pobre do Brasil representa 30% de sua população total, enquanto em países com renda per capita similares esse número é de 10%. De acordo com essa comparação, o Brasil deveria ter apenas 8% de sua população na linha da pobreza.

Em dados de 1999, 14% da população brasileira fizeram parte de famílias com renda inferior à linha de indigência e 34% de famílias com renda abaixo da linha de pobreza. A linha de indigência corresponde à estrutura de custos de uma cesta alimentar, definida regionalmente, que cubra as necessidades de consumo calórico mínimo de um indivíduo, enquanto a linha de pobreza inclui um mínimo de outros gastos essenciais, como vestuário, habitação e transportes. O Brasil teve, em 1999, 53 milhões de pobres, dos quais 22 milhões de indigentes.

Evolução da população das regiões brasileiras nos últimos 50 anos

Nos últimos 50 anos, a população brasileira teve seu efetivo mais que duplicado (2,4 vezes), passando de pouco mais de 70 milhões em 1960, para cerca de 170 milhões segundo os dados do censo 2000. Como pode se ver, ao longo da segunda metade do século XX, o contingente populacional brasileiro foi acrescido de aproximadamente 100 milhões de pessoas, isto é, quase três vezes a população da Argentina.

Se em números absolutos a população sempre cresceu, a taxa média de crescimento anual vem apresentando significativa diminuição. Assim, segundo o censo de 1960 (que revelou as tendências demográficas da década anterior), o ritmo de crescimento da população brasileira naquela data era ligeiramente superior a 3,0%. O censo de 2000 revelou que esta taxa caiu para quase a metade (1,6%). A principal explicação para esta queda tem sido a redução do ritmo do crescimento vegetativo, causado principalmente pela expressiva queda das taxas de natalidade. Grande parte dessa situação é decorrência do intenso e rápido processo de urbanização pelo qual o país vem passando.

Quando analisamos o crescimento populacional sob a ótica das regiões político-administrativas que compõem o país, poderemos constatar uma série de fatos. Primeiramente, a população absoluta de todas as regiões apresentou um expressivo crescimento, embora o ritmo desse incremento tenha sido bastante diferenciado. Por exemplo, as regiões Norte e Centro-Oeste tiveram no período, um ritmo de crescimento sempre superior a média brasileira, enquanto a Região Nordeste sempre foi aquela área do Brasil que apresentou os menores índices de incremento populacional. Essa variação nos ritmos de crescimento é explicada fundamentalmente por dois aspectos: as diferenças na intensidade do crescimento vegetativo de cada região e as migrações internas.

Neste ponto, vale a pena chamar a atenção para outros dois aspectos da evolução demográfica das regiões. O primeiro deles é que, embora o crescimento vegetativo venha apresentando uma queda de ritmo em todas as unidades regionais, este decréscimo tem se verificado de forma diferente no tempo e no espaço. Assim, nas regiões consideradas mais desenvolvidas (Sul e Sudeste), a diminuição aconteceu antes que no Norte e Nordeste, as duas áreas tidas como as menos desenvolvidas do país.

Um segundo aspecto é que o comportamento das migrações internas também mudou especialmente no que diz respeito às origens e destinos dos deslocamentos. Entre as décadas de 1950/70, os mais expressivos fluxos populacionais verificavam-se entre as regiões (especialmente do Nordeste para as outras unidades regionais) e tinham fundamentalmente origem rural e destino urbano. Da década de 1980 em diante, os mais expressivos deslocamentos internos da população passaram a ser mais intra-regionais e ter origem urbana (pequenas e médias cidades) e destino urbano (médias e grandes cidades).

Apesar de todas as transformações pelas quais o Brasil passou nos últimos 50 anos, praticamente não houve alteração no ranking das regiões mais e menos populosas do país. Aquelas com maior população absoluta atual, isto é, a Sudeste (72,3 milhões), a Nordeste (47,7 milhões) e a Sul (25,1 milhões) mantiveram-se, como em 1960, nas primeiras colocações. A única modificação ocorreu na colocação das regiões Norte e Centro-Oeste que contam hoje, respectivamente, com 12,9 milhões e 11,6 milhões de habitantes.

Até o censo de 1980, o Centro-Oeste era mais populoso que o Norte, situação esta que se inverteu em 1991. A explicação para o fato é principalmente de natureza político-administrativa: em 1988 foi criado o estado do Tocantins, desmembrado de Goiás, um estado do Centro-Oeste. O novo estado foi então incorporado à Região Norte que, com isso, passou a ter cerca de 900 mil pessoas a mais em seu efetivo populacional.



Uma evolução peculiar: o caso da Região Norte

A Região Norte que possuía cerca de 2,5 milhões de pessoas em 1960, teve seu efetivo aumentado cerca de 5 vezes, passando para quase 13 milhões em 2000. O ritmo de crescimento da população regional passou por dois momentos distintos. Entre as décadas de 1950 e 1970, o ritmo foi crescente; nas décadas posteriores, esse ritmo diminuiu. Mesmo assim, desde os anos 70, a região tem sido aquela que apresenta os maiores ritmos de crescimento dentre todas as unidades regionais do país.

O aumento do efetivo demográfico da maior e menos populosa região do Brasil, é explicado por um conjunto de fatores onde se ressaltam as migrações internas. A criação da Zona Franca de Manaus, a implantação de projetos agrominerais, pecuários e florestais, a construção de rodovias de integração e a descoberta de ouro, atraíram expressivos contingentes de pessoas de outras regiões, a maioria delas proveniente do Nordeste, Sul e Sudeste.

De maneira geral, os migrantes nordestinos dirigiram-se especialmente para o Tocantins, as porções meridionais do Pará, o Amapá e Roraima. Muitos vieram atraídos pela descoberta de veios e garimpos de ouro. Outros, em busca de terras, estabeleceram-se como posseiros em terras devolutas ou de latifúndios improdutivos. Alguns, ainda, se empregaram em projetos minerais, florestais ou participaram da construção de estradas e usinas hidrelétricas.

Já os fluxos migratórios originários do Sul e do Sudeste foram atraídos pelos processos particulares de colonização. Implantados por empresas privadas, estes projetos ofereciam terras a preços baixos, especialmente em Rondônia. Assim, paranaenses, gaúchos, mineiros, dentre outros, estabeleceram-se como pequenos proprietários e, não só foram responsáveis pelo surgimento de novas áreas de agricultura comercial modernizada, como também pelo aparecimento e crescimento explosivo de novas cidades.

Todavia, o fluxo de imigrantes para a Região Norte na década de 1990, embora ainda expressivo, diminuiu sensivelmente. A migração originária do Sul e do Sudeste praticamente estancou. Rondônia, o maior pólo de recepção de migrantes na década de 70, foi substituído por Roraima na década seguinte. Este último estado, por sua vez, foi substituído pelo Amapá como o maior centro receptivo de migrantes na ultima década do século XX.

Por fim, um outro aspecto que vale destacar é o grande desequilíbrio demográfico existente entre os estados que compõem o Norte do país. Assim, o Pará concentra atualmente quase metade (47,9%) da população regional, seguido do Amazonas (21,7%). Portanto, apenas essas duas unidades federativas, das sete que compõem a região, concentram praticamente 70% de todo o efetivo da população regional.