sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Agricultura





A ocupação iniciada durante o séc. XVI e apoiada na doação de terras por intermédio das sesmarias, na monocultura da cana-de-açúcar e no regime escravocrata foi responsável pela expansão do latifúndio, que concentra as terras e utiliza sistemas agrários nocivos, os quais ainda predominam em muitas áreas do país. Antes da expansão desse sistema monocultor, já havia se instalado, como uma primeira atividade econômica, a extração do pau-brasil, que se tornou a primeira grande agressão ao meio ambiente, através da destruição da vegetação litorânea.

A extinção dessa espécie vegetal (o pau-brasil) - não havendo neste período outro produto extrativo de valor comercial - teve início com a plantação da lavoura canavieira, que nesse período serviu de base e sustentação para a economia do Brasil.

Essa lavoura desempenhou um papel fundamental na organização da agricultura nacional, fazendo surgir a grande propriedade rural, núcleo de futuras plantations, apoiadas por mão-de-obra escrava. A exploração promoveu a derrubada progressiva da vegetação original. Na fase inicial da ocupação do território nacional, a substituição da Floresta Atlântica por lavoura foi realizada de maneira indiscriminada, fato em parte compreensível, face ao desconhecimento de métodos e técnicas que permitissem uma ocupação do solo mais racional, que previsse a preservação de áreas mais suscetíveis à degradação.

Em áreas do sertão, onde as condições ambientais não eram favoráveis à expansão canavieira, desenvolveu-se a grande propriedade voltada para pecuária de corte (praticada em pastos naturais afastados do litoral) e também o abastecimento dos pequenos centros urbanos para o fornecimento de animais de tração às áreas canavieiras.

Junto à expansão da cultura canavieira e da pecuária extensiva, desenvolveu-se uma agricultura de subsistência que visava o abastecimento das pessoas enganjadas nos engenhos e fazendas de gado, situação que perdurou até o séc. XVIII, quando a mineração passou a ser a principal atividade do País e como conseguinte, absorvendo a maior parte da mão-de-obra, o que ocasionou o abandono de muitos engenhos açucareiros.

Essa nova atividade foi responsável pelo aumento de áreas voltadas para agricultura de subsistência e promoveu o aparecimento de propriedades de menores dimensões, dedicadas à produção de alimentos, com fins comerciais. A prática da mineração ficou sob a forma de garimpos, embora em áreas restritas e localizadas, o que contribuiu também para a interiorização da ocupação do Brasil e provocou grandes alterações ambientais nas áreas onde se deu de forma mais intensa.

No séc. XIX, inicia-se a fase de grande expansão da ocupação do território, sobretudo na Região Sudeste, motivada pela difusão de novas terras. Assim, as propriedades se tornaram maiores e nesse período o capitalismo estava em grande ascensão. Nesse período também desenvolveu-se o transporte ferroviário, acabando-se, assim, o isolamento das fazendas.

No séc. XX, sucessivas crises de abastecimento surgidas em função do predomínio econômico do café e da cana-de-açúcar, voltados para o mercado externo, contribuíram para o aparecimento de pequenas e médias propriedades dedicadas ao cultivo de produtos alimentícios básicos.

O crescente processo de urbanização do Brasil, junto com o desenvolvimento industrial a partir da década de 40, contribuíram para o surgimento de áreas agrícolas destinadas à produção de matérias-primas industriais, de produtos hortifrutigranjeiros e de uma pecuária leiteira desenvolvida em planaltos. A atividade pecuária foi responsável por grandes transformações verificadas nos usos e nos empregos de técnicas na agricultura, acelerando a ocupação do Brasil e ocasionando modificações na natureza.

Mas, se a agropecuária constitui a atividade primária fundamental da economia brasileira, possuindo praticamente o monopólio da produção nacional de alimentos e empregando a quase totalidade da mão-de-obra rural, ela cobre atualmente apenas cerca de 1/4 do território do Brasil. Dos 8,3 milhões de km2 que formam o espaço brasileiro, cerca de 75% do total são constituídos por terras não aproveitadas economicamente, ou seja, onde não há lavouras nem criação de gado. E apenas 5% desse total é formado por terras onde se pratica a agricultura permanente ou temporária. As áreas de pastagens para a criação perfazem cerca de 20% do total. Como se vê, há uma subutilização do espaço brasileiro.

Essa subutilização do território para a agropecuária torna-se bastante grave quando recordamos que a maioria da população do Brasil se alimenta mal, com um consumo diário deficiente de proteínas, calorias e sais minerais. Além disso, os melhores solos e as maiores inversões de capitais na agricultura estão voltados ou para o cultivo de exportação ou com fins industriais, mas não para a produção de alimentos para o consumo interno. E é comum que certos produtos cujas exportações aumentam bastante acabem por ter seu cultivo expandido em áreas onde se praticava a cultura de gêneros alimentícios básicos para o brasileiro. Foi o que ocorreu, recentemente, com a valorização da soja e da laranja no mercado internacional e a expansão de seus cultivos no Brasil, em detrimento do feijão e da mandioca.

Na décaca de 1970 a 1980, a soja teve uma taxa de crescimento anual de 22,5% a laranja de 12,6% e a cana-de-açúcar de 6,4%, mas por sua vez o feijão teve uma taxa negativa de 1,9% a mandioca de menos 2,0% e o arroz cresceu apenas 1,5% . Porém, nesse mesmo período , a população brasileira cresceu a uma taxa de 2,4% ao ano. Não foi então por acaso que ocorreu em alguns anos a necessidade de importar feijão do México.

Desde o momento em que a indústria passou a ser o setor-chave da economia nacional, fato esse que ocorreu já há algumas décadas, a cidade passou a dominar o campo e a agropecuária a desempenhar um triplo papel : em primeiro lugar, ela deve gerar divisas através das exportações, divisas essas que servirão para ajudar a pagar a divida externa e para importar maquinarias indispensáveis ao processo de industrialização : em segundo lugar, ela deve fornecer matérias-primas ou combustíveis necessários para os bens fabricados pela indústria, tal como o álcool, por exemplo ; e , por fim, ela deve alimentar os grandes contigentes humanos que se concentram nas cidades e servem de força de trabalho nas indústrias ou no setor terciário da economia . É óbvio que este último papel será sempre o que ela vai desempenhar mais precariamente, já que os outros dois são bem mais lucrativos.

Dessa form,a os cultivos da cana-de-açúcar, da soja e do café passaram nos últimos anos por uma grande modernização, com a multiplicação de tratores e demais máquinas, e com o uso cada vez maior de fertilizantes e herbicidas. Mas, por outro lado, produtos voltados mais para o mercado interno de alimentos, como o feijão, arroz, mandioca, milho, e batata, via de regra continuam a ser cultivados com métodos tradicionais, sem conhecerem esse progresso de modernização agrícola. O único produto voltado para a alimentaçãoda população nacional que sofreu uma modernização e um crescimento da área cultivada foi o trigo. Mas isso só ocorreu porque houve subsídios governamentais para a produção desse gênero alimentício, que aumentava muito as importações do país.

Estrutura Fundiária

Denomina-se estrutura fundiária à forma como as propriedades agrárias de uma área ou país estão organizadas, isto é, seu número, tamanho e distribuição social. Um dos grandes problemas agrários do Brasil é sua estrutura fundiária, onde, de um lado, aparecer um pequeno número de grandes proprietários de terras - os latifundiários - que monopolizam a maior parte das propriedades rurais. E , no outro extremo, existem milhões de pequenos proprietários de terras agrícolas que possuem uma área extremamente pequena - os minifúndios -, insuficiente mesmo para lhes permitir uma vida decente e com boa alimentação. Muitas grandes propriedades fundiárias chegam a possuir enormes áreas ociosas, que se encontram apenas à espera de uma valorização e que não são utilizadas pela agropecuária.

Uma tentativa de classificar as propriedades rurais em função de sua dimensão foi realizada em 1964 pelo Estatuto da Terra. Essa classificação tem por base a noção de módulo rural, que se refere a uma área de propriedade familiar adequada, ou seja : "Um imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico...."

O módulo rural não possui uma dimensão única, ele é fixado de acordo com a região e o tipo de exploração. Assim, por exemplo, numa área de São Paulo onde os solos sejam férteis, a dimensão de um módulo rural será bem menor que numa área do Amazonas, onde os solos sejam menos férteis e maiores as distâncias em relação ao mercado. Com base nesse conceito de módulo rural, o Estatuto da Terra dividiu os imóveis rurais do Brasil em quatro categorias :

1 - Minifúndio - Corresponde a toda propriedade inferior ao módulo rural fixado para a região onde se localiza e para o tipo de exploração que nela ocorre. Os minfúndios possuem quase sempre menos que 50 hectares de extensão, embora sua média seja de 20 hectares. Eles abrangem atualmente cerca de 72% do total dos imóveis rural , do país , embora ocupem apenas cerca de 12% da área total desses imóveis.

2 - Latifúndio por dimensão - São todas as propriedades agrárias com área superior a 600 vezes o módulo rural. Elas correspondem, nas estatísticas oficiais, a menos que 0,1% do número total de imóveis rurais, abrangendo uma área equivalente a cerca de 5% da superfície total ocupada pelas propriedades fundiárias. Sua área média situa-se um pouco acima de 100000 hectares. Esse, estatistícos, porém, talvez não sejam exatamente corretos, já que um proprietário pode dividir terra demasiado grande em vários imóveis, deixando, assim, de ser classificado como latifúndio por dimensão.

3 - Latifúndio por exploração - Corresponde aos imóveis de até 600 módulos rurais, onde a terra é mantida inexplorada, com fins especulativos, ou, então, é explorada de forma deficiente e inadequada. Sua área média é de 350 hectares, abrange cerca de 23% do número total de imóveis e perfaz cerca de 73flo da área total das propriedades agrárias do país.

4 - Empresa rural - São os imóveis explorados de forma econômica e racional, com uma área que, no máximo, chega a 600 módulos rurais. Essas empresas abrangem cerca de 5% do número total de imóveis e abrangem uma área equivalente a quase 10% da superfície total ocupada pelas propriedades agrárias no Brasil. A área média dessas empresas rurais é de 221 hectares.

A Lei Agrária de 1993 foi elaborada com o objetivo de especificar e sistematizar aquilo que foi estabelecido pela Constituição de 1988, no que tange à questão agrária.

Essa lei reafirma o princípio da função social da terra e introduz o conceito de Módulo Fiscal ( M. F. ), que corresponde ao módulo rural médio por município. Essa unidade de medida varia de tamanho segundo a região: o menor módulo fiscal do país apresenta 5 hectares e o maior chega a 110 hectares.

Para efeito de classificação da propriedade rural, ficam definidos os seguintes conceitos :

• Minifúndio: propriedade rural menor que o módulo fiscal;

• Pequena propriedade: área entre 1 e 4 módulos fiscais.

• Média propriedade: área entre 4 e 15 módulos fiscais

• Grande propriedade: área superior a 15 módulos fiscais.

Assim, o grande problema da estrutura fundiária do Brasil é a extrema concentração da propriedade. A maior parte das terras ocupadas e os melhores solo encontram-se nas mãos de um pequeno número de proprietários, ao passo que o imenso número de pequenos proprietários possui áreas infima, insuficiente para forncer-lhes, e às suas famílias, um nível de vida decente. E essa concentração da propriedade fundiária no Brasil vem aumentandi bastante nos últimos anos.

A partir de 1970 começou uma expansão das "fronteiras agrícolas" do país em direção à Amazônia, com a ocupação de terras devolutas, a derrubada da mata e o estabelecimento da lavoura ou da pecuária. Em boa parte, essa ocupação da terra é apenas formal, com a empresa (às vezes até multinacional) conseguindo o título de propriedade da área e deixando-a ociosa à espera de sua valorização. Mas essa expansão das áreas ocupadas pela agropecuária acabou contribuindo para agravar ainda mais o problema da estrutura fundiária do Brasil, já que o tamanho médio das propriedades que ocupam a maio parte das novas terras é enorme, contituindo, de fato, autênticos latifúndios.

Esse agravamento na concentração da propriedade fundiária no Brasil, com o maior crescimento das grandes propriedades em detrimento dos minifúndios, compromete a alimentação da maioria da população. Isso porque as grandes propriedades em geral se voltam mais para os gêneros agrícolas de exploração. Um estudo recente calculou que entre 60 a 70% dos gêneros alimentícios destinados ao abastecimento do país procedem da produção de pequenos lavradores, que trabalham em base familiar.

Portanto, a concentração ainda maior da estrutura fundiária, na última década, constituiu-se em mais um fator explicativo da queda da produção de alguns gêneros alimentícios básicos, pro um lado, e do crescimento de produtos agrícolas de exportação, por outro.

Apesar de existir ainda no Brasil uma enorme extensão de áreas devolutas, e de a maior parte do território não ser realmente cultivada nem utilizada para criação de gado, são bastante freqüentes os conflitos de terras. Esses conflitos envolvem principalmente posseiros e grileiros. Posseiros são lavradores que, com suas fa,ílias, ocupam um pequeno pedaço de terra sem o título de propriedade. E grileiros são, em geral/grandes empresas ou fazendeiros que contratam jagunços (capangas ou "seguranças" ) para invadirem terras devolutas ou terras já ocupadas pelos posseiros que acabam sendo expulsos brutamente. Quase sempre levando a melhor, os grileiros conseguem, muitas vezes, títulos de propriedade falsificados. É evidente que o grande prejudicado nesses conflitos tem sido o posseiro, por não dispor de dinheiro para contratar jagunços e para arranjar falsos títulos de propriedade.

Calculou-se em 1985, que existem no país cerca de 1,2 milhões de familias de posseiros, o que equivale a cerca de 6 milhoes de pessoas. Eles detêm uma grande parte do total das pequenas propriedades rurais no Brasil e representam uma força de trabalho de grande importância para a produção de gêneros alimentícios.

Uma das conseqüências da expulsão dos posseiros de certas áreas é que a oferta de alimentos nas cidades vizinhas sempre diminui, como foi constatado recentemente em Belém do Pará. Mas, apesar de ocuparem nomalmente os piores solos e áreas distantes, os posseiros vão sendo expulsos para regiões ainda mais longe pelos grileiros ou até pelo Estado, ás vezes interessado em dar outro uso para ás terras ocupadas pelos posseiros. E os conflitos - muito comuns - culminam, por vezes, com a luta armada e chegam a assumir trágicas proporções, das quais a imprensa freqüentemente nos dá notícias.

Todos esses probemas que envolvem a estrutura fundiária do Brasil evidenciam a necessidade de mudanças, de reformas no campo visando a corrigir as principais distroções, que são a concentração da propriedade, a situação dos posseiros e grileiros e a prevalência da produção õe gêneros para exportação sobre os alimentos básicos de que a população necessita. É por isso que se discute tanto no brasil a reforma agrária, que seria uma renovação, uma reforma da estrutura fundiária, com uma distribuição mais justa da propriedade rural. Mas, apesar de ser intensamente discutida desde há algumas décadas, e de terem até sido criados alguns órgãos governamentais que deveriam implementá-la, a reforma agrária, de fato, nunca foi executada no país, a não ser em algumas poucas áreas e de forma muito superficial.

Contudo, a reforma agrária é uma necessidade imperiosa para a sociedade brasileira. A atual situação agrária do país, com as grandes propriedades muitas vezes improdutivas, com os conflitos entre posseiros e grileiros, é realmente desastrosa para imensa maioria da população. Há falta de gêneros agrícolas para a alimentação dos brasileiros e os preços dos produtos agropecuários são em geral proibitivos para amplas parcelas da população , ao mesmo tempo, existem enormes extensões de terras férteis que têm dono e que não são utilizadas produtivamente. O desperdício e a subutilização convivem lado a lado com a miséria dos pequenos agricultores e dos trabalhadores agrícolas.

Os conflitos pela posse da terra se multiplicam no meio rural do Brasil. Há os sem-terra rurais, que freqüentemente invadem fazendas improdutivas, estabelecem ai sem acampamentos e pressionam as autoridades no sentido de fazer um reforma agrária nessas terras, doando uma parcela para cada família de acampados. Em alguns poucos casos, esses movimentos doas acampados sem-terra foram vitoriosos. Mas a regra geral tem sido a violência, a repressão policial sobre as famílias. Conflitos fundiários desse tipo têm sido comuns no Brasil, nos últimos anos, especialmente em certas áreas da Amazônia.

Algumas pessoas, contrárias á reforma agrária, argumentam que no fundo os conflitos que ocorrem entre posseiros ou pequenos proprietários de terras e grandes fazendeiros ou capitalistas são na verdade apenas desavenças entre iguais, pois todos têm (ou almejam) a propriedade privada.

Essa interpretação é falsa. A propriedade familiar (assim como a propriedade comunal dos indígenas, e num grau mais elevado) não é semelhante á propriedade capitalista, pois nesta o que se visa é o lucro, sendo a terra um simples instrumento de negócio, ao passo que naquela a terra é um meio de trabalho. Explicando melhor: a propriedade familiar não é propriedade de quem explora outros, os trabalhadores, não é instrumento para ganhos fáceis pela valorização da terra improdutiva ou pelas baixíssimas remunerações pagas aos empregados, os ganhos de pequeno proprietário rural, portanto, não constituem ganhos do capital, não são lucros e sim ganhos de trabalho do proprietário e de seus familiares.

Há não apenas uma diferença profunda entre essas duas concepções de propriedade, mas também um antagonismo, que com freqüência dá origem a conflitos.

Relações de Trabalho

Existem várias formas distintas de organização do trabalho no meio rural brasileiro, desde a do pequeno proprietário que utiliza sua família como mão-de-obra, até as grandes empresas que contratam assalariados (permanentes ou temporários) e ainda os qune trabalham num pedaço de terra de um fazendeiro ao qual pagam uma parte da produção que obtêm.

Portanto, a relação de trabalho tipicamente capitalista - a relação assalariada, na qual o trabalhador possui um contrato com a empresa e é remunerado sob a forma de salário - não é a única e nem mesmo a principal forma de relação trabalhista existente no meio rural do Brasil.

Existem no meio rural formas de trabalho que podem ser consideradas como não-capitalistas, nas quais o trabalhador recebe parte da produção e não um salário, ou trabalha para a propriedade familiar e não uma empresa capitalista. O que há de comum em todas essas formas de relações de tabalho é que, em geral, as remunerações - seja em dinheiro ou em produtos - são baixíssimas, proprocionando ao trabalhador rural um nivel de vida muito precário. Apenas os grandes proprietários de terras e alguns poucos empregados (gerentes, capatazes) é que têm rendimentos mais altos.

Mas as formas de trabalho não- capitalistas subordinam-se ao sisterra capitalista, que afinal é dominante no Brasil. ou seja, essas relações de trabalho não-capitalistas são compatíveis com o capitalismo, elas estão numa situação de produzir bens que serão úteis para o sistema como um todo.

Na realidade, muitas vezes as grandes empresas capitalistas que, ao penetrarem no meio rural, produzem formas de trabalho que não são a relação assalariada, mas que lhes permitem obter maiores lucros com menores custos. E mesmo os minifúndios, que funcionam com o trabalho familiar, afinal produzem boa parte de seu cultivo para o mercado, para a força de trabalho urbana que está empregrada em firmas capitalistas. Essas relações de trabalho não-capitalistas, dessa forma, não são pré-capitalistas (anteriores a esse sisterra), mas produzidas ou mantidas pelo capitalismo.

* De forma resumida, podemos assim classificar as relações de trabalho existentes no meio rural do Brasil :

Pequenos proprietários - São lavradores que trabalham em base familiar. Eles representavam em 1985 por volta de 7 milhões de pessoas ativas, isto é, que trabalham, o que equivale a cerca de 40% da força de trabalho permanente da agropecuária brasileira. Uma parte desses minifundiários é constituída por posseiros. A organização do trabalho nos minifúndios baseia-se fundamentalmente na fam;ilia, incluindo o proprietário e seus dependentes, que prestam serviços sem remuneração. Essas pequenas propriedades cultivam gêneros agrícolas e criam pequenas quantidades de suínos, aves e, ás vezes, bovinos, conservando o essencial para seu consumo e vendedo o excedente para adquirir roupas, remédios, bens industrializados, etc. Mas o preço que conseguem para sua produção é baixo, apesar de esses gêneros serem revendidos pelos intermediários nos centros urbanos a preços bem mais elevados. Tais fatos esses pequenos proprietários de terras a uma condição de vida tão miserável que, muitas vezes, seus filhos são obrigados a migrarem para as cidades em busca de empregos não-especializados. Muitos minifindíarios trabalham em épocas de colheita nas grandes propriedades, já que o rendimento que obtêm em seus minifúndios nem sempre é suficiente da família .

Arrendatários - São aqueles que arrendam ou "alugam" a terra e pagam ao proprietário em dinheiro. Quando são pequenos arrendatários - o caso da maioria - , eles pouco diferem da situação dos parceiros : recebem uma baixa remuneração e trabalham com a família. Quando são grandes arrendatários, muitas vezes possuem empregados e um padrão de vida mais elevado.

Assalariados pemanentes - São os empregados que recebem salários e normalmente trabalham para grandes proprietários de terras. Eles representavam em 1985 menos de 2 milhões de pessoas, o que equivalia a 10% da mã0-de-obra rural do país. Como se vê, a relação de trabalho tipicamente capitalista é ainda minoritária no meio rural do Brasil.

Parceiros - São aqueles que trabalham numa parte das terras de um proprietário a quem pagam com a metade da produção ( os "meeiros") ou com a terça parte do que é produzido (os "terceiros") . Há, ainda , nesse sistema de parceria, o exemplo do vaqueiro do Sertão nordestino, que cuida do gado do fazendeiro e recebe um bezerro Vara.

Assalariados temporários -São os empregados pelas grandes fazendas apenas em épocas de maior necessidade de mão-de-obra, principalmente na cloheita. Eles somavam mais de 4 milhões de pessoas dem 1985 - equivalente a quase 25% da mão-de-obra empregada na agropecuária. Mas seu número cresce a cada dia. Podem ser divididos em duas categorias : os pequenos proprietários, posseiros ou parceiros, que se empregam fora de suas terras em alguns meses durante o ano por não conseguirem garantir seu sustento apenas com o minifúndio , e os volantes ou " bóias-frias", que são trabalhadores rurais que vivem migrando de uam região para outra em busca de serviço. Estes últimos vêm adquirindo a cada ano maior importância na força de trabalho agrária do país.

Produção Agrícola Brasileira

Na sétima estimativa da safra brasileira de grãos em 2005, o IBGE aponta que a produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (caroço de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) será de 113,507 milhões de toneladas. Isto representará uma redução de 4,91% em relação à safra de 2004 (119,370 milhões de toneladas).

Em 2005, a área plantada com grãos deverá crescer cerca de 0,50%, atingindo 48 milhões de hectares. Os destaques da safra de verão 2005 serão a soja e o milho, ocupando 23 milhões de hectares e 8,7 milhões de hectares respectivamente. Esses dois produtos detêm cerca de 76% da produção brasileira de grãos.

produção de grãos da região Nordeste aumentará em 9,62% e representará 9,03% da safra de 2005. As regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis, respectivamente, por 3,60%, 16,07% e 37,15%, aumentarão sua produção em, respectivamente, 14,77%, 3,39% e 5,46%. Com participação de 34,16% na safra de grãos total do País, a região Sul apresentará uma redução de 20,61% em sua produção.

No mês, produção de feijão crescerá 5,80%, graças ao aumento da área plantada na Bahia

A produção estimada, neste mês, para o feijão 2ª safra, indica um acréscimo de 5,80% em relação ao volume informado em junho. Novas avaliações do estado da Bahia, maior produtor nacional, mostram acréscimos tanto na área plantada como na produtividade, sendo respectivamente, 18% e 3%. Na região nordeste da Bahia, onde se destacam os municípios de Euclides da Cunha, Ribeira do Pombal, Paripitanga e Adustina, as chuvas estão regulares e com distribuição normal.

Já a produção de milho 2ª safra deverá ter uma queda de 3,06%. No Paraná, entre junho e julho, houve uma retração de cerca de 16%, ainda reflexo da falta de chuvas durante o ciclo vegetativo da cultura.

Na cultura do trigo espera-se um incremento de apenas 0,22% em relação a junho, devido às novas constatações de campo do Rio Grande do Sul onde diminuiu a área plantada com o trigo, mas a produtividade cresceu de 1.726 kg/ha para 1.966 kg/ha. As condições climáticas no período são favoráveis às lavouras.

Em relação a julho de 2004, crescerá a produção de feijão, mamona e soja

Cresceu a estimativa de produção, em relação ao ano anterior, do feijão em grão 1ª safra (0,53%), feijão em grão 2ª safra (7,45%), feijão em grão 3ª safra (9,08%), mamona (62,32%) e soja em grão (3,31%). Esperam-se quedas em: algodão herbáceo em caroço (-1,11%), arroz em casca (-0,57%), milho em grão 1ª safra (-12,09%), milho em grão 2ª safra (-27,86%), sorgo em grão (-25,57%) e trigo em grão (-9,62%).

A colheita dos produtos de primeira safra já está praticamente concluída. O acompanhamento prossegue junto aos produtos de inverno, no milho 2ª safra e nas culturas de terceira safra.

Para a segunda safra de milho de 2005, espera-se uma queda em torno de 28% em relação à produção do ano passado, ou 7,7 milhões de toneladas contra de 10,7 milhões de toneladas da safra de 2004. Nos dois maiores estados produtores, Mato Grosso e Paraná, responsáveis por 60% do milho 2ª safra, a colheita está em andamento. O Paraná deverá colher 1,6 milhão de toneladas e Mato Grosso cerca de 3,0 milhões de toneladas de milho.

Quanto ao trigo, aguarda-se para 2005 uma produção de 5,2 milhões de toneladas, inferior em 9,6% à do ano passado (5,7 milhões de toneladas) e bem aquém da necessidade nacional de consumo, que está por volta de 10,5 milhões de toneladas. No Paraná a produção esperada é praticamente igual à de 2004, apenas 0,68% a mais, situando-se em 3,0 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul apresenta uma queda de 19% na produção prevista para este ano, ficando no patamar de 1,7 milhão de toneladas de trigo para essa safra. Em ambos os estados, as condições climáticas estão favorecendo as lavouras. Nas regiões do Paraná onde o plantio ocorreu mais cedo, a colheita já se iniciou.

Pecuária

Pecuária e Pequenos Animais - 2005

Bovinos

207.156.696

Eqüinos

5.787.249

Muares

1.388.665

Caprinos

10.306.722

Asinino

1.191.533

Bubalino

1.173.629

Suínos

34.063.934

Ovinos

15.588.041

Aves

999.041.234

Rebanho bovino cresceu 1,3% em 2005

Em 2005, o rebanho bovino brasileiro atingiu 207,2 milhões de animais, o que representou um aumento de 1,3% em relação a 2004. O resultado confirma a desaceleração do crescimento verificado entre os anos 2000 e 2003. A migração da pecuária para outras atividades agrícolas, como cana-de-açúcar e soja, é uma das razões para esta taxa. Mesmo assim, o Brasil manteve sua posição de maior rebanho de bovinos do mundo, seguido por Índia e China (FAO). A descoberta de focos de febre aftosa no Centro-Oeste e no Sul do país não impactou significativamente a pecuária nacional.

Em 2005, apresentaram crescimento os efetivos de codornas (9,5%), seguido de frangos (7,0%). A produção de ovos de galinha chegou a 2,8 bilhões de dúzias. A gripe aviária fez com que alguns países restringissem as compras de carnes brasileiras , o que foi compensado, em parte, redirecionando-as para o mercado interno ou novos mercados externos.

Dentre os produtos de origem animal, destacaram-se, na comparação 2005/2004, as variações em ovos de codorna (13,0%) e mel (4,5%); e houve decréscimo de 7,4% na produção de casulos de bicho-da- seda. A produção de leite de vaca, em 2005, apresentou aumento de 4,7% em relação a 2004, bem como aumento de produtividade de 1.172 para 1.191 litros/vaca/ano.

Os dados são da pesquisa da Produção da Pecuária Municipal 2005 - PPM, que traça um perfil da produção brasileira de animais e de produtos de origem animal. Na mensuração do rebanho, foi analisado o efetivo em 31/12/2005. Para os produtos de origem animal, foram consideradas as quantidades produzidas durante todo o ano.

As regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores taxas de crescimento no rebanho de bovinos em 2005 frente a 2004, embora o Centro-Oeste ainda seja responsável por mais de um terço (34,7%) do efetivo nacional desses animais. Naquelas regiões, destacaram-se Amapá (17,5%), Acre (12,1%), Roraima (10,5%), Pernambuco (12,0%), Alagoas (10,2%), e Maranhão (8,8%). As maiores reduções no rebanho de bovinos, na comparação 2005/2004, foram no Distrito Federal (-10,8%), seguido por Rio Grande do Sul (-2,9%) e São Paulo (-2,5%). Os maiores rebanhos do país estão nos Municípios de Corumbá, em Mato Grosso do Sul (1.957.141 cabeças); São Félix do Xingu, no Pará (1.581.518) e Ribas do Rio Pardo, também Mato Grosso do Sul (1.340.646). Entre os dez principais municípios em efetivo de bovinos, oito estão na região Centro-Oeste.

Produção de leite de vaca apresenta maior produtividade em 2005

Quanto à produção de leite de vaca em 2005, foram produzidos 24,6 bilhões de litros, um aumento de 4,7% em relação a 2004. Minas Gerais é o principal produtor nacional de leite de vaca, com 28,1%, seguido de Goiás (10,8%), Paraná (10,3%) e Rio Grande do Sul (10,0%). A produtividade de leite de vaca cresceu de 1.172 litros/vaca/ano, em 2004, para 1.191 litros/vaca/ano, em 2005. O município brasileiro que mais produziu leite em 2005 foi Ibiá (Minas Gerais), com 104.427.194 litros e uma produtividade de 2.300 litros/vaca/ano.

Suínos cresceram 3,0% e Santa Catarina continua sendo o maior estado produtor

Em 2005, o efetivo de suínos registrou um aumento de 3,0% em relação a 2004, atingindo 34 milhões de unidades. Amapá e Rondônia apresentaram as maiores taxas de crescimento na produção de suínos em 2005, respectivamente, 30,4% e 20,7%. As maiores reduções nos efetivos foram Acre (-10,5%) e Espírito Santo (-8,5%). O principal estado produtor desses animais, em 2005, continuou sendo Santa Catarina (18,5%), seguido por Paraná (13,4%) e Rio Grande do Sul (12,4%). Uberlândia (Minas Gerais) é o principal município produtor.

Brasília alcança liderança na produção de frangos1

O efetivo de frangos e o de galinhas registrou aumento de 7,0% e 1,0%, respectivamente, na comparação 2005/2004, totalizando 812,5 milhões de frangos e 186,6 milhões de galinhas. São Paulo foi o principal produtor de galinhas, onde se localiza o Município de Bastos que foi o maior produtor nacional. Paraná foi o estado que produziu mais frangos em 2005; Brasília (Distrito Federal) passou da terceira, em 2004, para primeira colocação em 2005.

A produção de ovos de galinha foi de 2,8 bilhões de dúzias em 2005, com a região Sudeste tendo concentrado 45,2% da produção nacional. O principal estado produtor foi São Paulo, onde o Município de Bastos liderou com 169.790.588 dúzias.


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