quinta-feira, 29 de março de 2007

Falhas Geológicas no Brasil

Mapa neotectônico do Brasil mostra 48 falhas geológicas

Brasília, 7/1/2003 (Agência Brasil - ABr) - Cálculo de especialistas indicam que todos os dias ocorrem terremotos, numa média de um por minuto, mas é possível que o número seja maior. Apesar de serem afetados com maior freqüência, os abalos não estão restritos a países como Japão ou Estados Unidos. Ao contrário do que a maioria pensa, os brasileiros podem, sim, sentir o chão tremer a seus pés. Uma pesquisa do Instituto de Geociências (IGC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mapeou o território brasileiro e identificou 48 falhas geológicas mestras, locais onde "nascem" os terremotos. "Hoje, poderíamos acrescentar algumas outras a esse total, sem falar nas falhas secundárias", afirma o professor Allaoua Saadi, coordenador do trabalho. O projeto integra o Programa Internacional da Litosfera (International Lithosphere Program) que, por meio de uma força-tarefa, mapeia as estruturas tectônicas em atividade no planeta para prever catástrofes naturais. Por muito tempo, a idéia de que o Brasil estava livre do risco de terremotos, furacões ou outro formas de catástrofe natural prevaleceu no imaginário popular. Segundo Saadi, porém, a ausência de tais fenômenos não se deve à interferência divina, mas a um conjunto de fatores resultantes do tipo de ocupação do país. Devido às grandes extensões territoriais, o Brasil, ainda hoje, tem áreas pouco habitadas. "E se não existe ninguém para relatar a ocorrência do tremor, ele passa a não existir". Nas regiões onde a mineração é presente, muitos terremotos foram confundidos com detonações de maciços ou quedas de blocos. A evolução da geologia, principalmente nos últimos dez anos, motivou novo olhar sobre o tema. Há algumas décadas, por exemplo, o modelo adotado por cientistas de todo o mundo pregava a existência de lugares estáveis, onde o risco de tremores era zero, e outros instáveis, sujeitos às consequências da movimentação de placas tectônicas. Hoje, no entanto, é aceitável dizer que não existem locais estáveis – tudo está se movendo. Isso significa dizer que abalos sísmicos podem ocorrer em qualquer parte do planeta, inclusive no Brasil. Questões ambientais também incentivaram o desenvolvimento da ciência. A legislação atual obriga as empresas a realizarem uma avaliação do risco de sismicidade induzida antes de iniciar a construção de barragens. Isso porque a maioria dos rios cria seus leitos ao longo das falhas geológicas, zonas frágeis onde surgem os terremotos. Dessa forma, as chances de qualquer barragem estar localizada em cima de uma falha são grandes. A espessa coluna d’água cria tensão suplementar, e aquele tremor que só ocorreria depois de um século pode ser antecipado para daqui a alguns meses ou anos. Além da avaliação, é necessário o monitoramento por meio de sismógrafos, aparelhos sensíveis que registram a oscilação do solo e permitem determinar localização e magnitude dos terremotos. A atividade de mineração também deve apresentar um plano de detonação que relacione carga, estrutura geológica e local da explosão. Aliados às novas estações de monitoramento de sismos, esses fatores contribuíram para o acúmulo de dados que tornam possível a criação de um mapa neotectônico do país. As informações permitem a Saadi afirmar que todos os dias ocorrem terremotos no Brasil. "Mas como a intensidade dos tremores é pequena, a população não percebe". A necessidade de conhecer a natureza, dinâmica, origem e evolução da crosta terrestre levou à criação de um projeto mundial para estudo dos terremotos. Instituído em 1980, o Programa Internacional da Litosfera (International Lithosphere Program) funciona por intermédio de grupos de trabalho localizados em todos os continentes. O professor Saadi é o coordenador do trabalho no Brasil, papel que assumiu efetivamente em 1996. Todas as informações serão reunidas em um grande mapa-múndi que permitirá, até certo ponto, evitar futuras catástrofes. A fim de desenhar o mapa brasileiro, Saadi realizou várias viagens com a colaboração de colegas em Belém, Natal, Fortaleza e São Paulo. Em uma delas, foi de Manaus a Belém pelo Rio Amazonas em um barco do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Durante 20 dias, o grupo investigou as margens e identificou falhas na região. Para localizar as falhas, Saadi analisa primeiro cartas topográficas à procura de indicadores. Os rios são um exemplo, pois correm geralmente ao longo das fissuras. Outros recursos utilizados são imagens de satélite, fotografias aéreas e consulta à bibliografia já produzida sobre o tema. O resultado é um trabalho que aponta 48 falhas mestras, algumas com até 10 quilômetros de profundidade, a maioria concentrada no sudeste e no nordeste do país. "É bom lembrar que não podemos afirmar quando ou com qual intensidade os terremotos ocorrerão. O que o estudo indica são os locais com maior probabilidade de serem atingidos por terremotos", explica Saadi. Em países como o Japão, boa parte dos investimentos na área vão para pesquisas que tentam prever a data dos abalos, o que permitiria elaborar com antecedência um plano de evacuação. No entanto, isso ainda não foi alcançado. Conhecer a história do país também ajuda na previsão de tremores. "A França possui registros históricos de quase dois milênios, que contam também sobre eventos geológicos ocorridos na região. No Brasil isso é mais difícil. Os dados confiáveis que temos não ultrapassam os 50, 60 anos". Cada uma das falhas identificadas pela equipe de Saadi está relacionada no site do IGC (www.igc.ufmg.br/hpgagea/inicio.htm) junto com características, probabilidade de movimentação e eventuais abalos relacionados a ela. O espaço é aberto também àqueles que desejam acrescentar outros dados. O primeiro relatório de atividades foi apresentado em 1999, mas o trabalho prossegue: falta traduzir os dados para a base cartográfica do serviço geológico americano. Assim que o serviço for concluído, o mapa do Brasil ocupará seu espaço na carta mundial das maiores falhas ativas (World Map of Major Active Faults). Terremotos no BrasilOs terremotos são provocados pelo deslocamento das placas tectônicas, blocos rochosos que formam a crosta terrestre. Quando uma placa se movimenta, existe liberação de energia, resultante do acúmulo de tensões na crosta. Nos locais onde duas placas se uniram ou se separaram há milhões de anos, formaram-se falhas que, por serem zonas frágeis, servirão como porta de escape dessas tensões. Elas têm de 50 a 70 quilômetros de profundidade, e correspondem às áreas onde ocorrem os terremotos de maior intensidade. Apesar de estar localizado no meio de uma grande placa, o Brasil não está livre dos tremores. Como explica Saadi, toda placa é recortada em vários pequenos blocos, de várias dimensões. Esses recortes funcionam como uma ferida que não cicatriza: apesar de serem antigos, podem se abrir a qualquer momento para liberar energia. "Se você tem um bloco recortado e o comprime de um lado e de outro, ele rompe onde já existe a fratura", completa. Como as maiores catástrofes estão relacionadas às grandes falhas, é comum achar que o Brasil está livre dos tremores de terra, o que é errado. O país já registrou sismos de grande intensidade no Rio Grande do Norte, especificamente no município de João Câmara, e na fronteira entre Mato Grosso e Amazonas. Em Minas Gerais, a população de Pedro Leopoldo e Betim, cidades da Grande Belo Horizonte, também já foram surpreendidas por abalos. Já na Grécia antiga, vários filósofos investigaram a origem dos abalos sísmicos. Tales de Mileto (625-547 a.C) acreditava que a Terra boiava na imensidão das águas e, quando estas se agitavam demais, provocavam o terremoto. Anaxágoras (500-428 a.C.), por sua vez, defendia que os abalos resultavam de vapores originados do fogo central do Planeta. Para Aristóteles (384-322 a.C.), o ar retido nas profundezas terrestres escapava explosivamente de tempos em tempos, provocando os terremotos. Muitas teorias se acumularam até que o fenômeno fosse definido como movimentos naturais da crosta terrestre, propagados por meio de vibrações perceptíveis diretamente ou indiretamente, neste último caso por meio do sismógrafo. (Minas faz Ciência)

Um comentário:

Riccardo Uchôa disse...

Ótimo material para estudos no ensino médio, superior e concursos.Linguagem simples de fácil entendimento, diferente de muitos que complicam o ensino.